Docente vai tirar mais licença médica e até abandonar a profissão por conta das reformas!

02/02/2020

Educação / Mais anos na sala de aula e precarização do salário e da carreira podem contribuir para desmotivar ainda mais o magistério.

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A docência, em particular na educação básica, é uma atividade muito desgastante e acarreta em muitos educadores inúmeros problemas físicos e psicológicos. Foto: aplicativo Canva.
A docência, em particular na educação básica, é uma atividade muito desgastante e acarreta em muitos educadores inúmeros problemas físicos e psicológicos. Foto: aplicativo Canva.

Após um período na sala de aula, é muito comum no Brasil professores sentirem algum abalo na saúde, seja de ordem física ou psicológica. O problema é mais recorrente entre os que trabalham com a educação básica nas redes pública ou privada nos estados e municípios. 

E não é para menos. Baixos salários, carga horária excessiva, indisciplina dos alunos e condições inadequadas de trabalho formam um coquetel bombástico que leva a estresse, síndrome do pânico, ansiedade, problemas nas cordas vocais, coluna e muitos outros. 

Resultado: licenças médicas e até abandono da profissão, algo que pode se agravar com as reformas em curso no País vindas do governo Bolsonaro, conforme veremos após o anúncio.

Previdência e mais tempo na sala de aula

A reforma da Previdência aprovada pelo governo federal em 2019 resultou na prática em aumento de até sete anos de serviço para os professores, principalmente para as mulheres. 

Para quem já está no mercado de trabalho, regras de transição, dependendo do caso, resultam também em acréscimos significativos do tempo de sala de aula. Segundo a professora piauiense Aldenora Moreira, reforma lhe deu de "presente" quatro anos a mais de labuta.

Mais tempo de sala de aula significa possibilidade de mais problemas de saúde, mais licenças e até abandono da profissão. Continua, após o anúncio.

Segundo pesquisa realizada pela revista Nova Escola em agosto de 2018, 66% dos docentes entrevistados já tiveram que se afastar por problemas de saúde. O resultado disso é que muitos mudam de função dentro das próprias escolas ou simplesmente abandonam o emprego.

O problema é tamanho que matéria do Globo de junho de 2018 diz: "Segundo uma pesquisa feita pelo Movimento Todos Pela Educação, 49% dos docentes não indicariam a carreira para um jovem".

Mais reformas, mais problemas

Não é só a reforma da Previdência, no entanto, que agrava os problemas do magistério. A chamada Pec Emergencial 186/2019, que está para ser votada agora em fevereiro, prevê corte de até 25% nos salários dos servidores da União, estados e municípios. E a Reforma Administrativa, em vias de ser mandada para o Congresso, achata carreiras, salários e põe fim à estabilidade. Certamente isto não é um bom incentivo psicológico para que os professores permaneçam felizes na sala de aula. Continua, após o anúncio.

Organização

Profissionais do magistério precisam se organizar para tentar pelo menos reduzir os efeitos dessas reformas que, na prática, agravam uma situação que já é ruim. Do contrário, a curto, médio e longo prazos a figura do docente poderá ser rara no Brasil.

Abaixo, leia com atenção sobre os efeitos das reformas

REFORMA DA PREVIDÊNCIA

Já está em vigor e vale para o setor privado e servidores federais. Muitos estados já se adaptaram ao projeto. Municípios querem deixar passar as eleições deste ano para fazer o mesmo. Alguns efeitos negativos:

  • eleva idade idade mínima e tempo de contribuição;
  • impõe 40 anos de contribuição para quem quiser aposentadoria integral;
  • eleva alíquota mensal para até 14%;
  • Cria regras de transição para quem está na ativa que podem significar muitos anos a mais de labuta, principalmente para os professores.
  • Reduz aposentadorias e pensões.

"Esta reforma significa 7 anos a mais de sala de aula para mim. Não mereço." (Carla Silva, professora, Paraná).

PEC EMERGENCIAL

Projeto traz algo que talvez nenhum servidor público do País já tenha ouvido falar: redução salarial em até 25% para quem ganhe acima de três salários mínimos, isto é, R$ 3.135,00. Ou seja, renda do servidor pode diminuir drasticamente. Além disso, o projeto veda:

  • progressão na carreira e
  • realização de concursos públicos.

Relator da medida, senador Oriovisto Guimarães, já deu parecer favorável e votação deve ocorrer neste mês de fevereiro no Senado.

"Proposta de redução salarial? Nunca pensei que isto pudusse acontecer." (Paulo Leitão, Técnico em Enfermagem, São Paulo).

REFORMA ADMINISTRATIVA

Governo quer enviar para votação neste mês de fevereiro e, se aprovada, significará um retrocesso para o funcionalismo do País. Alguns efeitos negativos:

  • acaba a estabilidade para os futuros servidores.
  • cria Avaliação de Desempenho para poder demitir concursados que já passaram por estágio probatório.
  • impõe salários mais baixos para início de carreira;
  • acaba promoções por tempo de serviço;
  • eleva tempo de progressão, com o fito de impedir crescimento salarial;
  • abre espaços para perseguições políticas, tal como ocorria antes do advento da estabilidade.

"Na prática, é o fim do serviço público no Brasil." (Célia Costa, Assistente Social, Ceará).

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