"Se reabrirem escolas agora é porque decidiram matar crianças e professores"

25/04/2020

Educação / Alerta é de uma educadora. Ela diz ainda que todos os demais profissionais do magistério também estarão em perigo, como vigias, merendeiras e outros.

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Foto/Reprodução.
Foto/Reprodução.

A professora Albetisa Moreira atua na sala de aula em duas redes de ensino: Semec de Teresina e Seduc do Piauí. É também ativista sindical com larga experiência nas lutas em defesa dos interesses dos profissionais do magistério e dos trabalhadores em geral. E milita no Partido da Causa Operária (PCO). 

Após o anúncio, ela fala sobre os enormes perigos de se reabrir escolas antes que a pandemia de coronavírus esteja controlada e denuncia o descaso do governo Bolsonaro em relação à vida e à saúde do povo. Vale a pena conferir.

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A entrevista com a professora

Antes de falar no caso específico dos professores, como a senhora analisa as tentativas do governo Bolsonaro de reabrir tudo e mandar o povo de modo geral se arriscar a morrer? 

A chamada direita pouco se importa com o povo. A diferença é que Bolsonaro e seus ministros não têm disfarces. No início, a epidemia deixou apavorado apenas os mais abastados, que foram os primeiros a se contaminar, por isso a quarentena ainda teve uma relevância, eles precisavam se preservar. Agora a doença se alastra pela periferia. Veja em São Paulo os casos de Brasilândia, Sapopemba e São Mateus, onde as mortes se acumulam. A política concreta de Bolsonaro, João Doria e Bruno Covas é só oferecer valas em cemitérios. O povo pobre não está sendo tratado, não está sendo nem notificado com Covid-19. No geral, isto é assim em todo o Brasil. Para os ricos, tudo: médicos, enfermeiros, suítes em hospitais, EPI's, UTI's, tratamento correto. Para os pobres, valas comuns em cemitérios improvisados. Após o anúncio, a professora fala do caso específico das escolas.

E no caso específico da reabertura das escolas, defendida com veemência por Bolsonaro e seu ministro da Educação?

Se reabrirem escolas agora é porque decidiram matar até as crianças, pois em relação aos professores nunca se importaram mesmo. Além disso, há o enorme risco também para os demais profissionais do magistério, como vigias, merendeiras, pedagogos, secretários de escolas e outros.

A senhora acha que prefeitos e governadores vão ceder?

A pressão do governo Bolsonaro é grande. Vi notícias sobre isso em relação ao prefeito de Teresina, governadores de Brasília, Minas Gerais e vários outros. Se de fato cederem, será a porta para um genocídio.

Por quê?

Os estudos indicam preliminarmente que crianças, na sua maioria, são assintomáticas. São vetores fáceis de transmissão. Se aglomeradas em salas de 40 alunos no ensino fundamental, em escolas que tem 12 salas, em dois períodos, manhã e tarde... Imagine o tamanho da catástrofe. Por outro lado, na educação infantil tem sala com mais de 30 alunos, tem criança especial. Elas correm, brincam juntas, brigam juntas. A professora tem de estar sempre tocando nos materiais da turma, fazendo brincadeiras, contato direto, corporal mesmo. E como disciplinar os pequenos para ficarem de máscaras, lavar as mãos, não abraçar a professora, não compartilhar seus materiais? E os trabalhadores da escola? Porteiros abrindo e fechando portões, salas? E as merendeiras que servem a refeição, pegam em pratos e colheres usados pelas crianças? É possibilidade de vírus puro. Uma catástrofe anunciada. Continua, após o anúncio.

A senhora então não aconselha retorno às aulas agora?

Não vejo perspectiva de reinício nesse primeiro semestre.  Mas é melhor perder aulas que perder a vida. Os conteúdos são recuperáveis, há pessoal preparado para reformular a proposta curricular pedagógica, reduzindo os danos. E é preciso considerar que grande parte dos professores tem comorbidades e já estão um pouco avançados na idade. Quem se arriscará? Na verdade, defendo que todos os professores com comorbidades nem retornem, como os outros. Devem entrar de licença ou trabalhar em casa. Eu mesma sou hipertensa e diabética, como tantos outros. Devemos lutar por esse direito, quando do retorno às aulas. Continua, após o anúncio.

Mudando um pouco de assunto, mas sem sair do tema: a esquerda agora parece que acordou e viu que é preciso defender o Fora Bolsonaro, inclusive como forma de combater a pandemia. Seu partido — o PCO — já defendia isto há muito tempo. A senhora acha que dá pra recuperar o tempo perdido?

Será que a esquerda acordou mesmo? Parece que ainda estão em sono profundo, na expectativa que a solução virá das eleições em 2022. Muitos setores da esquerda insistem em não acreditar no poder das mobilizações. Estamos há vários meses sem manifestações, inclusive bem antes da pandemia. O maior exemplo foi na Reforma da Previdência. Preferiram a oposição parlamentar, em vez do enfrentamento direto contra o governo. Então não ir pra ruas não se deve à pandemia. Vem de bem antes. Não adianta defender o Fora Bolsonaro e não mobilizar o povo. Será que acreditam que o Maia e o centrão vão resolver a parada? Vão esperar a Globo convocar para mobilizar pelos atos contra o governo? O Fora Bolsonaro só terá força se vier da mobilização popular, com a exigência de novas eleições, anulação dos processos contra o ex-presidente Lula. Quanto mais paralisada estiver a esquerda, maior será o avanço da direita contra a população. Vejam o Bolsonaro: por maior que seja a crise do governo, a extrema direita, apoiadora de Bolsonaro, vai para rua e faz barulho, o que dá fôlego ao governo, pois transparece que Bolsonaro tem um base popular, que não é ampla, é bem minoritária, mas se movimenta.

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De uma família de classe média, nasceu em 27 de Março de 1960, no Rio de Janeiro. Talentoso desde muito jovem, artista atuou nos vocais da famosa Legião Urbana, grupo no qual foi também vocalista, violonista e líder.