As seis lições que torturadores no Brasil receberam de agentes dos EUA

13/03/2022
Imagem: pixabay
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Se o preso demonstrava estar prestes a não suportar mais uma sessão no pau--de-arara, o torturador acrescentava a esse martírio choques violentos em seus órgãos genitais

Golpe de 1964 | Segundo consta no livro Batismo de Sangue, publicado por Frei Betto em 1982, a repressão brasileira seguia seis lições dadas por organizações ligadas aos EUA, como a Academia Internacional de Polícia (Washington), quartéis norte-americanos da Zona do Canal do Panamá e a CIA. Frei Betto, durante a ditadura militar (1964-1985), foi preso e testemunhou bárbaras torturas nos porões do DOPS e outros centros de martírios contra presos políticos.

Veja as seis lições e nossos comentários:

Primeira lição: separar os 'comparsas' [opositores ao regime militar], a fim de debilitá-los e jogar um contra o outro. O torturador simulava que um preso havia entregue alguma informação secreta do outro. Com isto, visava que o interrogado confirmasse determinada informação que o torturador não tinha certeza e, ao mesmo tempo, fazer com que os opositores ao regime passassem a se desacreditar mutuamente.

Segunda lição: tentar soltar a língua do preso no papo. Recusando-se a colaborar, passar aos métodos "científicos". No início do interrogatório, o torturador tentava persuadir o preso político a entregar determinada informação através do uso apenas da impostação da voz. Se não dava resultado satisfatório, o pau literalmente comia: socos, pau-de-arara, choques... Continua, após o anúncio.

Terceira lição: intensificar o "tratamento" quando o preso demonstra atingir os limites de suas forças. Se, por exemplo, o preso demonstrava estar prestes a não suportar mais uma sessão no pau--de-arara, o torturador acrescentava a esse martírio choques violentos em seus órgãos genitais.

Quarta lição: dar ao prisioneiro a impressão de que os órgãos de segurança não ignoram nenhum detalhe de sua vida. O objetivo era convencer o preso de que a repressão militar era onisciente e onipresente, isto é, não adiantava tentar esconder informações porque seriam descobertos.

Quinta lição: intensificar o "tratamento" quando o preso começa a admitir alguma acusação. Se o preso, pelo cansaço e pela tortura, acena que alguma acusação que lhe é feita é real, o torturador intensificava ainda mais os maus tratos. O objetivo era fazer com que o torturado falasse logo, em vez de recuar. Continua, após o anúncio.

Sexta lição: levar o prisioneiro à exaustão, até a perda completa do domínio de seus sentimentos, raciocínios e palavras. Com isso, a repressão arrancava confissões de presos que sequer estavam mais conscientes do que diziam.

Encontrar (sem os comentários) em: Batismo de Sangue. Círculo do Livro, 1982, páginas 174 a 182.

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