Mas não é um problema especifico do Brasil, mas das democracias representativas em geral, e a desconfiança nos partidos se expressam em altos índices de abstenções, votos em brancos e nulos.
Em relação à América Latina, em 2023 foi publicado mais um relatório do Latinobarômetro (Corporação com sede em Santiago (Chile), que faz pesquisas anuais desde 1996 e atualmente em 18 países da América Latina), intitulado Recessão democrática na América Latina, e entre as análises constantes no Relatório, estão os partidos políticos.
Na pesquisa foram aplicados 19.906 questionários em 18 países (exceção da Nicarágua onde há a justificativa de que não foram aplicados os questionários em função da situação de instabilidade política do país) e se perguntou pela primeira vez se os partidos políticos funcionam bem e a resposta foi que não funcionam para 77% dos entrevistados. O máximo de acordo com a frase foi no Uruguai com 38% (o que significa afirmar que para 62% não funciona bem), enquanto nos demais países os índices chegaram a 80% (no Peru, nove entre dez pessoas disseram estar em desacordo com a frase).
Os índices de baixa credibilidade dos partidos e a de sua imagem se inserem no que o Latinobarômetro qualifica como recessão democrática, que se expressa no baixo apoio à democracia, no aumento da indiferença ao tipo de regime, a preferência (e atitudes) a favor do autoritarismo.
Na análise sobre os partidos políticos, se referem ao personalismo (de presidentes e candidatos a presidentes) que "termina fragilizando os partidos" e ainda mais que "esta debilidade conduz a atomização do sistema de partidos e o abaixamento de sua imagem e legitimidade".
O fato é que os dados revelam a baixa credibilidade dos partidos políticos em todos os países. Não há nenhum na América Latina no qual os cidadãos percebam majoritariamente que os partidos funcionam bem.
No entanto, a pesquisa também revela que há um grande percentual de entrevistados que afirmam que não pode haver democracia sem partidos políticos. O problema, portanto, não é a existência de partidos, mas a qualidade dos partidos existentes nestes países, de seus representantes (O Uruguai, com 62%, seguido por Costa Rica, com 59% são os que têm maior número de pessoas que afirmam que sem partidos políticos não é possível haver democracia).
Mas um dado importante é que entre 2000 e 2013 havia uma parcela maior de apoio à democracia e suas instituições, para iniciar ,desde então, uma queda sistemática. Em relação aos partidos políticos, em dez anos, entre 2013 e 2023 houve uma diminuição do percentual de pessoas que apoiavam os partidos, ou seja, houve uma desvalorização dos partidos (inseridos na referida recessão democrática, um rebaixamento da sua imagem, que resulta na sua baixa credibilidade). É importante registrar que há variações entre os países, sendo o Uruguai o país que tem o maior percentual de apoio à democracia e aos partidos e Honduras, o menor.
Mas, o aspecto importante é que a maioria considera que não pode haver democracia sem partidos, embora em sete países cerca da metade dos cidadãos ou mais, não creem que os partidos políticos sejam indispensáveis para a democracia: Panamá (64%), Colômbia (60%), Equador (59%), México e Paraguai (58%), Peru (54%) e Guatemala que tem o menor índice (50%).
E nesse sentido, no que o relatório qualifica como recessão democrática na região, há riscos para a democracia quando existe um baixo apoio, o aumento da indiferença em relação ao tipo de regime, baixa credibilidade dos partidos políticos e uma preferência pelo autoritarismo, o que coloca a importância de se analisar a insuficiência do processo democrático, em especial quanto à resolução de problemas essenciais do país, como a permanência, em que pese todos os esforços de governos democráticos como o atual no Brasil, das desigualdades e que se materializa em atitudes e comportamentos de desvalorização das instituições da democracia representativa, e assim a criação de um ambiente socialmente instável, politicamente polarizado, que tem pavimentado as ações e o crescimento da extrema direita e impõe a necessidade de reformas institucionais e especialmente mudanças de caráter estrutural no sentido de garantir a efetiva igualdade de todos perante a lei, a justiça, a dignidade e a justa distribuição da riqueza.