Nos últimos dias, está se discutindo a volta das aulas
presenciais por conta da flexibilização do isolamento social praticado por
governadores e prefeitos em todo o Brasil. A volta às aulas em meio à pandemia
coloca o esforço de isolamento a perder, diz o estudo do Departamento
Intersindical de Estatística e Estudo (Dieese), informações da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PNAD-C) do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), indicam mais de 123 milhões de pessoas em
domicílios que possuem pelo menos um jovem de até 17 anos. De acordo com a
Fiocruz o retorno às aulas coloca em risco a vida de 93 milhões de pessoas. O
debate sobre o fim da quarentena, sem o devido controle da pandemia é pensado
no contexto das escolas, coloca não apenas o risco de aumento da contaminação,
mas expõe também a falta de condições de milhões de famílias para fazerem o
remanejamento do cuidado de seus filhos.
O ensino remoto, que
vem sendo adotado nas redes de ensino não atende a necessidade dos estudantes,
sem planejamento e organização do poder público, a maioria dos alunos não
consegue acompanhar o calendário por falta de recursos, como computadores,
material didático e acesso à internet, além do mais, os professores não foram
capacitados para essa modalidade de ensino.
O Brasil é um dos
países que menos testa o Coronavírus, todavia, quando se abriram escolas na
Europa, na Coreia do Sul e em outros países, foi testado muito. A falta de
estrutura no país deixa a desejar, salas de aulas com 40 a 50 alunos, dessa
forma, como será feito o rodízio? quem vai garantir as equipes de
apoio que precisarão fazer uma higienização das escolas? Como vai manter, nas
salas de aula sem ventilação a distância mínima recomendada? Na China, mesmo
com as infecções controladas rapidamente, as aulas presenciais ainda estão
suspensas. França e Coreia do Sul reabriram suas escolas, mas presenciaram o
surgimento de novos casos e tiveram que fechar dezenas de estabelecimentos.
Voltando ao Brasil, se em uma escola uma pessoa testar positivo para a Covid -
19, o poder público testará todos os alunos, professores e funcionários? Os
professores e funcionários do grupo de risco estarão liberados do expediente
presencial? No tocante a isso, o estado de São Paulo suspendeu o retorno das aulas
previsto para o dia 08 de setembro. O Conselho Nacional de Secretários de
Educação (Consed), elaborou diretrizes nacionais para um protocolo de retorno
às aulas presenciais sem a participação do Ministério da Educação (MEC) , a
cartilha traz recomendações como o uso de máscaras e do álcool em gel,
testagem, reposição das aulas aos sábados e feriados, ensino mesclado entre o
presencial e à distância, proibição de trabalho em grupo etc. A Confederação
Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) criticou a exclusão dos
professores nessa discussão, e diversos sindicatos ameaçam entrar em greve.
A maioria dos
diretores de escolas brasileiras avalia que os professores não estão preparados
para a volta das aulas presenciais. De acordo com a pesquisa da revista Nova
Escola. Em outra pesquisa do Datafolha mostrou que 76% da população acha que as
escolas devem permanecer fechadas nos próximos dois meses.
Portanto, o retorno
não deve ser imposto por governadores e prefeitos e deve ser criado um ambiente
seguro. Se os professores não sentirem segurança, não vao transmitir isso aos
alunos, que consequentemente, não conseguirão aprender. O governo federal não
repassou nenhum recurso novo para a educação em relação ao combate do
Coronavirus, até o momento, só foram feitos os repasses que já estavam
previstos em lei. Logo, espera-se que os governadores e prefeitos só decidam
retornar quando as condições permitirem, ou seja, somente com a vacina, só
assim o retorno se dará de forma segura para toda a comunidade escolar garantindo
um ambiente seguro e favorável ao ensino.
*Paulo Sérgio Santos Rocha é professor da educação básica.
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