No mato sem cachorro, Bolsonaro vai cair. Entenda por que em cinco fatos e compartilhe...

28/03/2019

Não há saída possível para a continuidade do governo Bolsonaro

Política | O presidente Jair Bolsonaro se encontra na dificílima situação de "se correr o bicho pega; se ficar o bicho come", pois entrou "num mato sem cachorro". Sua queda iminente, por isso, se tornou praticamente inevitável. Não é teoria da conspiração ou previsão elucubrativa. É política baseada em fatos. Vamos a eles, com destaque para os itens 3 e 4.

Fato 1. Foi eleito de forma artificial. A eleição de Jair Bolsonaro foi toda baseada em fake news. E não se trata somente do uso que fez de bizarrices tipo 'kit gay' ou 'mamadeira de piroca'. Embora isso tenha lhe rendido alguns milhões de votos, não foi evidentemente o fator preponderante em sua eleição. A mentira maior que Bolsonaro conseguiu introjetar na cabeça de seus eleitores foi a de que seria o 'salvador da pátria', o 'político diferente e não corrupto' que resolveria de modo simples e rápido os problemas mais graves do Brasil, como desemprego, violência urbana e combate à corrupção, por exemplo. Menos de três meses depois, até muitos de seus seguidores de campanha já perceberam que a coisa não é bem assim. O desemprego cresceu. A violência idem, até como consequência natural de mais gente sem trabalho. Quanto ao combate à corrupção, o motorista Queiroz e as transações financeiras que envolvem seus filhos e sua esposa também fizeram a popularidade do mito despencar.  Somado aos fatores a seguir, tal quadro real e decepcionante levará Bolsonaro a cair, assim como ocorreu com Fernando Collor de Melo, que era no Planalto no início dos anos 1990 uma espécie de clone do presidente atual.

Fato 2. Bolsonaro só tem o caos a oferecer ao povo. Além de não conseguir resolver nada de relevante no país, Jair Bolsonaro só tem o caos a oferecer ao povo. Para citar apenas uma pauta quanto a esse tópico, até analistas políticos de direita concordam que a Reforma da Previdência elaborada por Banqueiros e ministro Paulo Guedes criará no Brasil uma legião de miseráveis, já a curto prazo, pois as novas regras propostas penalizam até os que já estão aposentados. Bolsonaro sabe disso. E sabe também que seus próprios seguidores não querem tal reforma. Por isso o capitão não se empenha com afinco para que seja aprovada e até tumultua o meio campo com declarações ofensivas a parlamentares, em particular a Rodrigo Maia, presidente da Câmara e hoje um dos maiores articuladores políticos do país. A Reforma da Previdência é outro problemão que levará à queda do presidente, conforme veremos de forma mais detalhada no tópico a seguir. Continua, após o anúncio.

Fato 3. Se aprovar a Reforma, cai. Se não aprovar, cai antes. É na Reforma da Previdência que está a chave para a queda de Jair Bolsonaro. A burguesia brasileira e internacional fez uma concessão ao apoiar o capitão, embora tivesse um candidato preferencial nas eleições de 2018 — o ex-governador de São Paulo Geraldo Alkcmin. Como o tucano não deslanchava e Bolsonaro conquistava uma base social de fanáticos, os muito ricos tiveram que aceitá-lo. Esse apoio, contudo, tem um preço muito alto. Dentre as inúmeras outras medidas contra o povo, a Reforma da Previdência é a mais imediata e importante delas para a burguesia. É aqui onde a imagem "se correr o bicho pega; se ficar o bicho come" é melhor ilustrada no caso do presidente. Se Bolsonaro decidir enfrentar milhões de brasileiros — dentre os quais seus tresloucados seguidores — e partir para comprar deputados e senadores para aprovar a reforma, cairá numa impopularidade tamanha que levará o país a uma convulsão social e a um novo ascenso da esquerda. Isto inviabilizará a permanência dele na presidência. Por outro lado, se quiser enrolar a burguesia, será bombardeado dia e noite com denúncias de escândalos — reais ou fictícios —, que não suportará e pedirá para sair. E ainda correria o risco até de ser preso.

Fato 4. O vice Mourão quer derrubá-lo. É público que o general Hamilton Mourão conspira contra Bolsonaro. Mourão desautoriza o mito em público e já conversa abertamente com empresários sobre "políticas para o futuro do país", como fez dia 26 último, a convite de Paulo Skaf, presidente da Fiesp. Mourão, na verdade, entrou na chapa para ser uma espécie de "saída civilizada" para as crises que o bolsonarismo naturalmente iria criar, dado o temperamento intempestivo do capitão e seu total despreparo para exercer o cargo maior do país. Continua, após o anúncio.

Fato 5. Pesos pesados preveem a queda. Não apenas analistas desconhecidos preveem que Bolsonaro cairá. Pesos pesados como Fernando Henrique Cardoso, José Sarney,  jornalista Luis Nassif  e até Olavo de Carvalho — o guru dos Bolsonaros — têm análises nessa mesma linha. Carvalho já declarou inclusive à Folha que o capitão só dura uns seis meses. 

No mato em que Bolsonaro entrou, portanto, se aparecer um cachorro é para mordê-lo. Oxalá!

Por Landim Neto, editor do Dever de Classe

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