Instrumento remove proteínas do cérebro associadas à enfermidade, atestou pesquisa em camundongos feita por estudiosos da University of Texas Medical Branch.
O obscuro submundo conspiracionista nas redes
"Na internet (...) existe um vasto ecossistema de 'influenciadores da saúde' dedicado a vender soluções estapafúrdias para doenças que deveriam ser tratadas com medicina de verdade"
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Atualizada em 03/05/2025, às 10:35

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Em julho de 2023, a bióloga Ana Bonassa e a farmacêutica Laura Marise, do canal de divulgação científica Nunca Vi 1 Cientista, publicaram um vídeo explicando que a diabetes não é causada por vermes. A motivação foi à divulgação do nutricionista André Luiz Lanza no Instagram afirmando que a diabetes é causada por parasitas, resultado de uma infecção por vermes e como solução apresentou um "tratamento alternativo" recomendando um "protocolo de desparasitação", oferecendo à venda até mesmo um e-book com o protocolo de tratamento.
O objetivo das cientistas era a de questionar o tal "tratamento alternativo" e no vídeo, de forma didática, alertaram para os perigos de informações e procedimentos, em especial na área de saúde, sem comprovação científica.
Além de não ter eficácia, também não teve a liberação da ANVISA, a agência reguladora. O canal Nunca vi 1 cientista, tem entre outros objetivos, disseminar informações confiáveis, baseadas em evidências e está disponível no YouTube em https://www.youtube.com/channel/UCdKJlY5eAoSumIlcOcYxIGg e tem muitos vídeos com informações importantes, inclusive vários que foram publicados durante a pandemia, como os sobre o (mal) uso de hidroxicloroquina para cura da covid-19, as falhas metodológicas, sem validade cientificas, de pretensas pesquisas para justificar seu uso etc.
No dia 23 de agosto de 2024, uma juíza da 1ª Vara do Juizado Especial Cível de São Paulo em resposta a um processo do nutricionista, condenou as duas cientistas a pagarem uma multa por "danos morais" ao responsável pelas postagens e mandou a retirar o vídeo do ar (o que desmentia o tal "tratamento alternativo") O nutricionista pedia uma indenização de 30 mil reais. Segundo a juíza "deve ser observada a inviolabilidade, à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem das pessoas" e que nesse caso verificou-se a ocorrência do dano moral "haja vista a situação de vergonha e tristeza a que fora submetido o autor da ação, em razão da conduta do réu em publicar, sem autorização, seus dados em vídeo junto à rede social de amplo alcance".
Ao escrever a respeito deste fato, Bruno Vaiano- editor-chefe da revista Superinteressante - no artigo Duas cientistas brasileiras foram condenadas e multadas por falar a verdade, afirma que antes da condenação, o Ministério Público havia emitido um parecer classificando a hipótese dos vermes como "tese extremamente questionável, excêntrica e esdrúxula, já afastada pelas técnicas medicinais há muitos anos".
No artigo, ele argumenta que a condenação das duas cientistas poderia abrir um precedente perigoso "em um país em que divulgadores de ciência usam as redes sociais, entre outras coisas, para preencher as lacunas severas de alfabetização científica da população brasileira – que são resultado de séculos de desigualdade socioeconômica, políticas públicas fracassadas na educação, racismo e outros males crônicos". (https://www.msn.com/pt-br/noticias/other/duas-cientistas-brasileiras-foram-condenadas-e-multadas-por-falar-a-verdade/ar-AA1qFzp3
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Foto: Webnode.
No dia 7 de setembro de 2024 o Jornalista Reinaldo José Lopes publicou um artigo no jornal Folha de S. Paulo intitulado Vence a pilantragem dos influencers da saúde no qual inicia afirmando que "na internet (...) existe um vasto ecossistema de 'influenciadores da saúde' dedicado a vender soluções estapafúrdias para doenças que deveriam ser tratadas com medicina de verdade. Para nossa sorte, também existem divulgadores científicos que costumam desmontar esses absurdos com precisão e bom humor". (https://www1.folha.uol.com.br/colunas/reinaldojoselopes/2024/09/vence-a-pilantragem-dos-influencers-da-saude.shtml.).
Um pouco mais de um mês da condenação e das ações das duas cientistas, com apoio, entre outras entidades, da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), no dia 28 de setembro de 2024, o ministro do Supremo Tribunal Federal, Dias Tofolli , suspendeu a decisão da juíza (Larissa Boni Valieres da justiça de São Paulo) que condenou as duas cientistas.
Este é apenas um caso, de repercussão recente. Há muitos outros, no qual se usa as plataformas digitais para além de vender "tratamentos alternativos" ineficazes, publicar todo tipo de absurdos, como ataques à ciência, difusão de teorias da conspiração etc.
Em uma entrevista no dia 27 de setembro de 2024 na TV GGN (com Luis Nassif) Ergon Cugler, pesquisador do IBICT – Instituto Brasileiro de Informação, Ciência e Tecnologia - comentou sobre uma pesquisa, na qual foram analisadas mais de 27 milhões de conteúdos nos últimos 8 anos (2016-2024) de 2,2 milhões de usuários em 855 comunidades abertas no Telegram e aborda um conjunto de temas – caras à extrema direita e com forte presença nas redes sociais - como teorias da conspiração, comunidades terraplanistas, de desinformação sobre mudanças climáticas, comunidades antivacinas (que tiveram um papel importante para desinformar durante a pandemia que vitimou mais de 750 mil pessoas no Brasil, ao questionar a eficácia das vacinas e até mesmo absurdos como uma suposta existência de um microchip nelas), reptilianos, além de grupos dedicados a fazer o que se chama de "revisionismo histórico" (questionamento, por exemplo, de que não houve holocausto) e, claro, oferecimento de "tratamentos alternativos" para determinadas doenças.
E entre os exemplos que ele dá diz "Está bombando uma teoria da conspiração, uma mentira, uma desinformação, sobre um tal de 'detox vacinal'. Eles inventam a história de que quem tomou vacina supostamente tem nanorrobô, microchip, dentro do organismo. Depois de causar o pânico social, vendem uma solução milagrosa que seria esse 'detox', que consiste em três gotinhas de dióxido de cloro de limpeza industrial para tomar todas as noites antes e supostamente desintoxicar. Além de vender o frasco de dióxido de cloro, também começaram a produzir e-books de como você toma o dióxido de cloro, curso online de como você pode produzir seu próprio dióxido de cloro".
E alerta para outros aspectos relevantes, como o crescimento de grupos neonazistas na internet que havia tido um grande impulso no governo Bolsonaro (Uma matéria publicada no jornal O Globo no dia 16 de janeiro de 2022, se refere a um mapa elaborado pela antropóloga Adriana Dias que estudou o que chamou de etnografia do neonazismo no Brasil, mostrando que havia 530 grupos ativos no país e que teve um crescimento de 270,6% de janeiro de 2019 a maio de 2021).
E para o fato de que essas comunidades, além de ter milhões de usuários, são muito conectadas, articuladas com outras, dentro e fora do Brasil que partilham os mesmos conteúdos. E nesse sentido, em relação aos grupos de extrema direita, ele estabelece um elo entre a invasão do capitólio nos Estados Unidos por seguidores de Donald Trump no dia 6 de janeiro de 2021, com a invasão e depredação dos prédios dos três poderes em Brasília no dia 8 de janeiro de 2023 por seguidores de Bolsonaro.
E mais do que desinformação e defesa do ideário da extrema direita, há quem lucre com isso, não apenas politicamente, mas financeiramente, monetarizando a mentira, a desinformação, como a venda de soluções "milagrosas", publicações de e-books, cursos online etc.
O problema central, a meu ver, no Brasil em especial, é a falta de uma legislação específica que possa coibir esse tipo de uso na internet e nas redes sociais para mentir, desinformar e ainda lucrar financeiramente.
Sem uma legislação ocorrem fatos como em maio de 2023, por exemplo, quando o Telegram foi notificado pela Policia Federal para entregar dados de grupos que faziam apologia ao nazismo. A plataforma se recusou a entregar os dados dos usuários afirmando que "feria o direito à liberdade de expressão" e defendia "a privacidade dos usuários", confundindo liberdade de expressão com liberdade de cometer crimes.
Ergon também destacou o papel importante do astrólogo e autointitulado filósofo Olavo de Carvalho, como centro de muitas comunidades de teorias da conspiração.
Como combater de forma eficaz a circulação desses conteúdos? Com uma lei rigorosa, que seja cumprida, daí a importância do PL 3620/2020 conhecido com o PL das Fake News que trata da regulação das plataformas digitais. O PL foi aprovado no Senado no dia 30 de junho de 2020 (44 votos a favor, 32 contra e duas abstenções) e entre outras coisas propôs a criação da Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet, visando o combate à disseminação de conteúdos falsos nas redes sociais, nos serviços de mensagens privadas e também estabelecendo normas relativas à transparência de redes sociais e à responsabilidade dos provedores que contribuírem para disseminar desinformação com sanções para o descumprimento da lei.
Depois de aprovado no Senado foi remetido para a Câmara dos Deputados três dias depois, no dia 03 de julho. Quase três anos depois, em abril de 2023 o projeto teve o regime de urgência aprovado e assim poderia ir diretamente para votação no plenário. A data prevista era no dia 2 de maio de 2023. Não foi.
E quase quatro anos depois, em abril de 2024, depois de muitos debates, audiências públicas, modificações do projeto original etc., o presidente da Câmara dos Deputados Artur Lira, decidiu acabar com a sua tramitação criando um Grupo de Trabalho para no prazo de 40 dias elaborarem outro PL. O prazo, mais uma vez, não foi cumprido (até final de setembro de 2024 o Grupo de Trabalho sequer havia se reunido).
E para os que defendiam (e ainda defendem) sua aprovação, tanto dentro como fora do Congresso Nacional, a perspectiva não é das mais otimistas: O grupo de Trabalho, com 20 integrantes, tem apenas 5 deputados comprometidos de fato com PL original: Orlando Silva (PC do B/SP), relator do PL, Afonso Motta (PDT-RS), Erika Hilton (PSOL-SP), Jilmar Tatto (PT-SP) e Lídice da Mata (PSB-BA).
E é pouco provável outro PL sobre o tema seja votado até o final do mandato de Artur Lira na presidência da Câmara e assim, há de se aguardar como será a tramitação com o novo presidente, ou seja, só deverá ser votado, ser for, no próximo ano.
Sem uma legislação que possa regular o uso das redes, vigaristas que criticam a ciência sem qualquer fundamento, oferecendo "tratamentos alternativos" com o objetivo de lucrar (à custa da ignorância e mesmo à saúde dos outros) e adeptos e divulgadores de teorias da conspiração, comunidades antivacinas, revisionistas etc. deverão continuar no "submundo obscuro da conspiração nas redes" e pior, impunes.
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