A Filosofia vai à praça
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Titanic é grande. Primeiro, porque tem como enredo um dos maiores desastres da História. Segundo, porque traz um bom ensinamento e uma denúncia digna de registro. Merecia pelo menos mais uma estatueta.
Sábado, 00:33
No dia 23 de Março de 1998, na entrega do Oscar, o filme Titanic levou 11 estatuetas, de um total de 14 indicações. Entre os prêmios, o de Melhor Diretor (James Cameron), Melhor Direção de Arte, Melhores Efeitos Visuais, Melhor Edição e Melhor Filme. Um grande feito.
Creio que foi justo, mesmo sem entender, tecnicamente, nada de cinema. Afinal, Titanic é grande. É grande porque tem como enredo um dos maiores desastres da História. É grande também porque traz pelo menos um bom ensinamento e uma denúncia digna de registro.
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Segundo consta em várias publicações (Britânica, Barsa etc), o desastre do Titanic, o super navio que "nem Deus afundava", deixou um total de 1.514 mortos, entre mulheres, homens e crianças.
Matéria no Linkedin, no perfil do Especialista em Operações Portuárias e Offshore — Igor Ferreira — revela que esse é o sétimo do gênero em número de óbitos. O primeiro, diz o pesquisador, ocorreu em 1945 — Segunda Guerra —, quando o navio alemão Wilhelm Gustloff foi torpedeado pelo Exército Vermelho da ex-URSS e afundou, deixando 9.400 pessoas mortas.
Mas voltemos à versão de cinema da catástrofe que envolveu o Titanic. Nela, o premiado diretor James Cameron criou um enredo romântico meio "água com açúcar" para relatar a tragédia. Isso, contudo, ajuda a revelar uma das boas lições do filme, em minha opinião, embora com uma falha sob o aspecto, digamos, da abordagem ao empoderamento da mulher.
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Na trama, a personagem Rose Dewitt (Kate Winslet) embarca no navio com sua mãe, Ruth DeWitt (Frances Fisher). Por estarem falidas, a mãe quer empurrar a filha de qualquer jeito para casar com o milionário Carl Hockley (Billy Zane), um vilão machista, conservador e que mostrou-se também muito violento nas cenas finais da fita.
Nisso aparece Jack Dawson (Leonardo Di Caprio), um pobretão muito esperto, jovem, bonito, aventureiro, artista, espirituoso, cheio de carisma e que entrou de penetra na embarcação. Com tantos atributos assim, Dawson estraga a festa do ricaço, ao conquistar o coração, a mente e a alma da mocinha da história.
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Rose decide então enfrentar a mãe, abandona a ideia de casar com o milionário e vai viver um grande amor com o moço que, nas palavras dela mesma, a "salvou de todas as maneiras que um homem pode salvar uma mulher". Seria bom, se não fosse maravilhoso.
Rose Dewitt, desse modo, faz uma espécie de revolução em sua própria vida. A mocinha indefesa e senso comum do início se tornou uma mulher madura, consciente e empoderada ao final. Com isso, fica a lição de que todo mundo pode crescer e mudar. Inclusive para melhor.
Onde estaria, no entanto, a falha nesse crescimento para melhor? Para chegar aonde chegou, Rose Dewitt precisou de, nada mais nada menos, um homem para "salvá-la".
Como Titanic — ou qualquer outro filme — é só uma peça de ficção, embora, no caso, a partir de um fato real, Cameron poderia perfeitamente ter tratado a coisa de modo diferente. Não o fez, sabe-se lá por quê.
Mas, tudo bem. Ninguém é perfeito. E o diretor até compensa essa falha com uma importante denúncia que traz embutida em sua obra, que tento abordar a seguir.
Quando o navio bateu no iceberg, Deus não apareceu e a água começou a entrar, o desespero tomou conta de todo mundo. Foi então que se percebeu a gravidade de algo que já havia sido citado lá pelo início do filme.
Embora imponente, o Titanic não tinha botes salva-vidas para todos. Garantia mesmo, só para os ricos da primeira classe. Os burgueses de então presentes na viagem e que não mediram esforços no sentido de tentar se salvar sozinhos.
Tal como no caso do empoderamento de Rose Dewitt, que James Cameron poderia ter olhado de outro modo, sem o viés meio carregado dos ideais românticos do Século 19, a divisão de classes presente no navio também poderia ter sido romantizada ou mesmo escondida. Titanic, o filme, reafirmo, não é um documentário, é só uma peça de ficção. O autor poderia trabalhar os fatos como quisesse.
Cameron, contudo, neste caso não ocultou ou romantizou nada. Preferiu mostrar a verdade. Preferiu expor a classe burguesa dominante presente no navio como ela é: crente que merece todos os privilégios, seja em que situação for e às custas do que for preciso.
Com isso, creio, o diretor contribui para o avanço da consciência dos que continuam a acreditar na lenda de que, no capitalismo, "todos podem ter os mesmos direitos". Por essa, Titanic merecia até mais uma estatueta.
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João R P Landim Nt
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