Não case sem antes ver O Lagosta
Uma lição bem simples de um filme meio complexo e que apresenta dois mundos muito exóticos.
Cultura | Lembro-me da primeira vez que ouvi o nome "Olavo de Carvalho".
Era um final de aula, ano de 2010, quando um aluno perguntou se eu conhecia sua obra.
Desde então, essa passou a ser uma rotina de fim de horário. Curiosamente, os "olavistas" nunca debatiam no transcorrer da aula.
Expressões como "Ameaças do Foro de São Paulo", "Conspiração Comunista" e "Ditadura Gay"davam o rumo de um período absolutamente improvável que se anunciava.
A decadência da cultura não acontece com dia e hora marcada. É um processo que nos engole de forma imperceptível, ato por ato. Quando menos se espera, em um único ano as movimentações equivalem à um século.
Um fenômeno esquisito, que envolvia, na sua maior parte, meninos de classe média, viciados em internet, deslumbrados com a possibilidade de criticar a filosofia sem precisar se prestar ao "trabalho" de ler.
Palavras como "feminazi", ataques ao "politicamente correto" e reivindicação ao sagrado direito de ser um escroto, pareciam trazer sentido à uma vida vazia de experiências concretas.
Filhos da classe trabalhadora, ressentidos em suas ilusões materiais, buscando desesperadamente uma experiência de comunidade na adesão à um exército liderado por um místico cafona.
Daí em diante, o cotidiano de qualquer professor de filosofia passava pelo desconforto de tentar explicar o óbvio, desfazer fake news e manipulações grotescas propagada pelo astrólogo da pós-verdade.
Olavo de Carvalho foi consequência exata do "caldo de cultivo" dessa Era de ignorantes orgulhosos.
Sua morte inicia o fim de um breve ciclo de sua influência. Como o hit do último carnaval, que se esvai no esquecimento de quem pouco se importa com a qualidade da obra.
O que fica é a perplexidade e o mal estar de quem se surpreendeu com o diagnóstico de nosso atraso.
A educação tende à tornar-se cada vez mais mercantil e a cultura não acena para dias melhores.
A comunicação por imagens em substituição aos livros; os apelos ao supérfluo e ao que não consome esforço; a rejeição à tudo que confronte o "eu narcísico" e a falta de tempo para os aprimoramentos apontam para um futuro nada otimista.
Que a experiência histórica, expressa no legado nefasto dos Profetas de nossa Era, seja pedagogicamente aproveitada para enfrentarmos o que ainda está por vir.
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