Olavo de Carvalho e as Lições Sobre Nosso Tempo

26/01/2022
"A decadência da cultura não acontece com dia e hora marcada. É um processo que nos engole de forma imperceptível, ato por ato." Foto/reprodução.
"A decadência da cultura não acontece com dia e hora marcada. É um processo que nos engole de forma imperceptível, ato por ato." Foto/reprodução.

Fabíola Azevedo Lemos, educadora

Cultura | Lembro-me da primeira vez que ouvi o nome "Olavo de Carvalho".

Era um final de aula, ano de 2010, quando um aluno perguntou se eu conhecia sua obra.

Desde então, essa passou a ser uma rotina de fim de horário. Curiosamente, os "olavistas" nunca debatiam no transcorrer da aula.

Expressões como "Ameaças do Foro de São Paulo", "Conspiração Comunista" e "Ditadura Gay"davam o rumo de um período absolutamente improvável que se anunciava.

A decadência da cultura não acontece com dia e hora marcada. É um processo que nos engole de forma imperceptível, ato por ato. Quando menos se espera, em um único ano as movimentações equivalem à um século.

Um fenômeno esquisito, que envolvia, na sua maior parte, meninos de classe média, viciados em internet, deslumbrados com a possibilidade de criticar a filosofia sem precisar se prestar ao "trabalho" de ler.

Palavras como "feminazi", ataques ao "politicamente correto" e reivindicação ao sagrado direito de ser um escroto, pareciam trazer sentido à uma vida vazia de experiências concretas.

Filhos da classe trabalhadora, ressentidos em suas ilusões materiais, buscando desesperadamente uma experiência de comunidade na adesão à um exército liderado por um místico cafona.

Daí em diante, o cotidiano de qualquer professor de filosofia passava pelo desconforto de tentar explicar o óbvio, desfazer fake news e manipulações grotescas propagada pelo astrólogo da pós-verdade.

Olavo de Carvalho foi consequência exata do "caldo de cultivo" dessa Era de ignorantes orgulhosos.

Sua morte inicia o fim de um breve ciclo de sua influência. Como o hit do último carnaval, que se esvai no esquecimento de quem pouco se importa com a qualidade da obra.

O que fica é a perplexidade e o mal estar de quem se surpreendeu com o diagnóstico de nosso atraso.

A educação tende à tornar-se cada vez mais mercantil e a cultura não acena para dias melhores.

A comunicação por imagens em substituição aos livros; os apelos ao supérfluo e ao que não consome esforço; a rejeição à tudo que confronte o "eu narcísico" e a falta de tempo para os aprimoramentos apontam para um futuro nada otimista.

Que a experiência histórica, expressa no legado nefasto dos Profetas de nossa Era, seja pedagogicamente aproveitada para enfrentarmos o que ainda está por vir.



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