Há um setor, contudo, que não pode ceder a tal apelo, apelo este de fundo hipócrita, em minha opinião. A milhões de homens, mulheres, crianças e idosos não é dado o direito a seguir sequer a ditadura da Covid-19. Muitos vivem nas ruas ou nos lixões, atrás de comida.
Outros tantos, amontoados em vilas e favelas, habitam ambientes apertados, sem conforto ou condições adequadas de higiene e alimentação. Não podem também, portanto, aderir ao confinamento, pelo menos tal como aconselham os órgãos ligados à saúde.
Em fevereiro de 1947, o poeta Manuel Bandeira publicou o poema "O bicho". (Leia, ao final do artigo). O texto é a expressão de um mundo caótico, marcado por profundas desigualdades e hipocrisia, tal como se continua a ver nos tempos atuais.
O 'bicho' do Bandeira é o homem de hoje que, mesmo com o coronavírus, não pode se isolar. Isto, naturalmente, o torna ainda mais indesejável para os muito ricos. E também para alguns dos setores médios. Estes, do alto de suas "colônias de férias domiciliares" e ignorância, não conseguem enxergar além do próprio umbigo.
*Landim Neto é editor do Dever de Classe
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