Projetos sobre o tema tramitam na Câmara e Senado, com chances de aprovação ainda neste ano
Manuel Bandeira e o homem que, mesmo com coronavírus, não pode se isolar
"O bicho" é a expressão de um mundo caótico, marcado por profundas desigualdades e muita hipocrisia.
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Por *Landim Neto. O coronavírus, através de governantes em todo o mundo, impôs toque de recolher. Os ricos e os setores médios da população estão agora alojados em suas confortáveis casas, sítios, chácaras, fazendas e apartamentos. Têm direito ao que há de melhor em comida, tecnologia, higiene pessoal e entretenimento. Pelas redes sociais, muitos destes replicam, insistentemente e até em tom policialesco, que todos precisam obedecer, para que a peste não se alastre... Continua, após o anúncio.
Há um setor, contudo, que não pode ceder a tal apelo, apelo este de fundo hipócrita, em minha opinião. A milhões de homens, mulheres, crianças e idosos não é dado o direito a seguir sequer a ditadura da Covid-19. Muitos vivem nas ruas ou nos lixões, atrás de comida.
Outros tantos, amontoados em vilas e favelas, habitam ambientes apertados, sem conforto ou condições adequadas de higiene e alimentação. Não podem também, portanto, aderir ao confinamento, pelo menos tal como aconselham os órgãos ligados à saúde.
Em fevereiro de 1947, o poeta Manuel Bandeira publicou o poema "O bicho". (Leia, ao final do artigo). O texto é a expressão de um mundo caótico, marcado por profundas desigualdades e hipocrisia, tal como se continua a ver nos tempos atuais.
O 'bicho' do Bandeira é o homem de hoje que, mesmo com o coronavírus, não pode se isolar. Isto, naturalmente, o torna ainda mais indesejável para os muito ricos. E também para alguns dos setores médios. Estes, do alto de suas "colônias de férias domiciliares" e ignorância, não conseguem enxergar além do próprio umbigo.
*Landim Neto é editor do Dever de Classe
Leia o poema, após o anúncio
O bicho
Manuel Bandeira
O bicho, meu Deus, era um homem.
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