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Obra aborda desafios e resistências no Brasil em estudos sobre gênero e sexualidade
Com contribuição de pesquisadores da USP, coletânea discute os temas dentro da conjuntura política e social do País.
Jornal da USP
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livro Desafios e Resistências em Gênero e Sexualidade no Brasil Contemporâneo é uma coletânea dos resultados de trabalhos realizados pelo Comitê de Gênero e Sexualidade da Associação Brasileira de Antropologia (ABA) nos anos de 2019 e 2020. A obra foi organizada por Heloísa Buarque de Almeida, professora do Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, e pelo professor Carlos Eduardo Henning, da Universidade Federal de Goiás (UFG).
Integrando a coleção Diferenças do Centro Editorial e Gráfico (Cegraf) da UFG, o volume foi lançado na 34ª Reunião Brasileira de Antropologia, evento que aconteceu entre 23 e 26 de julho na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A coletânea reúne um conjunto amplo de autores, com trabalhos que abordam diferentes facetas do tema, como estudos sobre política, direitos sexuais e arte LGBTQIAPN+.
A ideia da obra, de acordo com os organizadores, foi "mostrar a qualidade e densidade das pesquisas como parte de nossa tarefa de resistência no campo científico". Também reunir trabalhos que analisassem a conjuntura política do momento após a eleição do ex-presidente Jair Bolsonaro, junto de pesquisas antropológicas sobre gênero e sexualidade no Brasil, com foco em abordagens sociais.
Apesar dos desafios e dificuldades, os organizadores valorizam a apresentação de um conjunto complexo de reflexões redigidas ao longo dos últimos anos, em especial de cunho etnográfico. A coletânea foi redigida desde o início de 2021, em um contexto de pandemia de covid-19, e se encerra em outra realidade, vista como "pós-pandêmica" e com uma nova configuração política no País.
Os organizadores, Heloísa Almeida e Carlos Henning, também têm experiências no âmbito do gênero e sexualidade. Henning, professor do Departamento de Antropologia da Faculdade de Ciências Sociais da UFG, aborda em suas pesquisas temas como gênero, sexualidade e homoerotismo. Heloísa é professora do Departamento de Antropologia da FFLCH, articulista do Jornal da USP, além de fundadora da Rede Não Cala, rede de professoras pelo fim da violência sexual e de gênero na USP.
Antigênero e pânicos morais
O primeiro bloco da obra apresenta seis capítulos que abordam o embate do antigênero, como ficou conhecido internacionalmente, ou da ideia de "ideologia de gênero", termo que predominou no contexto brasileiro.
Escrito pela doutora em Antropologia Social pela FFLCH, Flávia Melo, o capítulo "O gênero e o fim do mundo: ofensivas antigênero no Brasil" demonstra a importância política que as questões de gênero e sexualidade ganharam no Brasil, em um contexto em que tais conceitos foram continuamente distorcidos em prol da propagação do pânico na população.
Flávia discute como a disseminação do termo "ideologia de gênero", que vem acompanhada de uma influência religiosa da política, foi uma estratégia para travar um combate ao movimento LGBTQIAPN+ no País. Estas ações chegaram a acarretar na exclusão de termos como "orientação sexual" do Plano Nacional de Educação.
No mesmo bloco, o sexto capítulo também teve a contribuição de pesquisadores da USP." Cruzada sexogenérica e a arte como regime de moralidade: reflexões a partir do Queermuseu", capítulo escrito por Vi Grunvald, professora travesti e doutora em Antropologia Social pela FFLCH, junto de Jorge Leite Jr., aborda o papel da arte nas disputas sociopolíticas.
A dupla dá como exemplo as acusações de "pedofilia em museus" envolvendo a performance do artista Wagner Schwartz no Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 2017. Os pesquisadores demonstram como a arte, a reflexão intelectual e os valores democráticos são agredidos e fragilizados a fim de proteger a "família tradicional".
Os demais capítulos do primeiro bloco seguem discutindo o contexto da centralidade que estes debates tomaram na discussão política brasileira. Os textos tratam dos conceitos de proteção à família por meio de ataques aos movimentos LGBTQIAPN+ e seus direitos.
Interseccionalidade
A segunda parte da obra, que reúne oito capítulos, também representa a diversidade de pesquisas e abordagens antropológicas atuais sobre gênero e sexualidade no Brasil. Neste bloco, os textos conectam gênero e sexualidade à interseccionalidade, representada pelos diferentes marcadores sociais das diferenças no País.
No capítulo "Raça, gênero e pandemia no Brasil: vidas e números", Gustavo Rossi e Isadora Lins França, historiadora e mestre em Antropologia Social pela FFLCH, trazem as dimensões de raça e gênero para o centro da discussão da pandemia de covid-19.
No capítulo "Envelhecimento e homossexualidade masculina em pesquisas antropológicas brasileiras: corpos, sexualidades e relacionamentos", Júlio Assis Simões, professor e cientista social formado pela FFLCH, aborda a homossexualidade masculina e o envelhecimento, e como esses focos antropológicos acompanharam o aumento no interesse em temáticas de gênero e sexualidade a partir da virada do século.
No tópico seguinte, Guita Debert, mestre e doutora em Ciência Política pela FFLCH, e Mauro Brigeiro, mantêm a discussão sobre sexualidade e envelhecimento. No capítulo "A gestão do envelhecimento e a sexualidade: revisitando imagens e narrativas", a dupla traz a questão do envelhecimento ativo, e como questões além dos cuidados com a saúde contribuem para a conquista de um envelhecimento "bem-sucedido".
Leia original AQUI
Mais informações: sophyalimadomingos@usp.br e amanda@fmrp.usp.br
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