Fernando Pessoa e a "facada" em Bolsonaro

02/01/2024

Falta apresentar o Adélio por ele mesmo.

Foto/Reprodução.
Foto/Reprodução.

Cultura | Por Landim Neto, editor do site. Escrevi o pequeno texto abaixo em junho de 2019. Depois, após exibição de documentário dirigido pelo jornalista Joaquim de Carvalho — sobre o estranho caso da "facada" em Jair Bolsonaro, decidi publicá-lo novamente, com algumas pequenas alterações, mais de forma que de conteúdo. 

Eis:

Fernando Pessoa e a "facada" em Jair Bolsonaro

O poeta português Fernando Pessoa (1888-1935) inovou na literatura mundial. Enquanto renomados autores criaram personagens, Pessoa criou personalidades — os heterônimos — na verdade, outros poetas. E todos com estilo e biografia próprios. 

Se vivo fosse, Fernando Pessoa talvez conseguisse explicar quem de fato é Adélio Bispo, o homem que supostamente esfaqueou Jair Bolsonaro no calor do primeiro turno das eleições presidenciais brasileiras de 2018. 

Antes que busquemos, contudo, entender Adélio a partir da obra do autor de Mensagem, é importante conhecer e/ou relembrar alguns dados das criações do poeta nascido em Lisboa e o mais famoso de Portugal. Continua, após o anúncio.

Dentre as personalidades paridas por Fernando Pessoa, três são muito conhecidas: Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos. E há também o poeta modernista Fernando Pessoa por ele mesmo, uma quarta personalidade.

Caeiro (1889-1915) viveu no campo e era de estilo e linguagem simples. Só estudou até o primário. 

Reis estudou medicina, é antimodernista e possui linguagem clássica e vocabulário erudito. Nasceu em 1887. Data de sua morte é desconhecida. 

Por fim, Campos é engenheiro e modernista. Nasceu em 1890. Data do seu falecimento também não se sabe. 

Fernando Pessoa por ele mesmo dispensa maiores apresentações. É o próprio.

A partir de tais personalidades tão díspares, é possível estabelecer um paralelo entre as diferentes pessoas criadas pelo poeta português e o "esfaqueador" Adélio

A diferença é que nos heterônimos nós temos personalidades em pessoas distintas. Em Adélio, nós temos personalidades diferentes em uma pessoa só. Continua, após o anúncio.

Um primeiro Adélio foi apresentado por setores da mídia como um homem educado e bem sucedido financeiramente, a ponto de pagar R$ 600, 00 por uma hora num clube de tiro frequentado por pessoas de classe média de Florianópolis. 

Um outro Adélio, humilde, é desempregado, embora tivesse dinheiro para pagar aluguel de pensão. 

Um terceiro, por fim, é rude, fanático e louco de 'esquerda', a ponto de pegar uma faca e ir, sozinho, matar um candidato a presidente da república rodeado de seguranças e famoso por pregar a morte de opositores.

Fossem esses diferentes "Adélios" criação de Fernando Pessoa, tudo bem. O poeta demonstrou que era muito inventivo mesmo. 

O problema é que, no mundo poético de Pessoa, personalidades criadas não precisam de maiores explicações. Basta que o leitor se entretenha com o que cada uma delas produz. 

No mundo verdadeiro dos "Adélios", no entanto, é possível que autoridades e a grande mídia estejam ocultando uma quarta pessoa: o Adélio real. O Adélio por ele mesmo. 

Talvez por isso o tornaram inimputável. Talvez por isso não o deixem falar.

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Porque é fato também que sonhos não morrem —, os chamados Garotos de Liverpool continuam muito presentes na vida de seus milhões de fãs em todo o planeta.

De uma família de classe média, nasceu em 27 de Março de 1960, no Rio de Janeiro. Talentoso desde muito jovem, artista atuou nos vocais da famosa Legião Urbana, grupo no qual foi também vocalista, violonista e líder.