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Mentiras e seus usos em eleições
"A mentira está intimamente ligada à política, que hoje se potencializa com o desenvolvimento tecnológico"
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Atualizada em 20/04/2025, às 18:25

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m tempos de redes sociais e a possibilidade ampliada de difusão de mentiras, especialmente na política, com a proximidade do início das campanhas eleitorais para a eleição de outubro (prefeitos e vereadores) talvez seja importante analisar a propaganda eleitoral, distinguir o que é falso do que é verdadeiro, de promessas irrealizáveis, inclusive sobre tema que não são da competência deles e mais: a consciência de que mentiras podem ter consequências trágicas, especialmente quando se está no poder e toma decisões como, entre muitos exemplos, o que vimos durante a pandemia no Brasil quando se defendia (e estimulava) o uso de remédios sem qualquer eficácia e base cientifica, profilaxias inócuas para o vírus como cloroquina e ivermectina ou estupidez sobre ineficácia de vacinas. Embora mentiras faça parte do "cardápio eleitoral" se tornam muito mais danosas quando são ditas e defendidas por autoridades que deveriam se pautar pela sensatez, equilíbrio e não contribuir, com mentiras, para a ampliação da espiral da estupidez, como por exemplo, ataques à ciência, o negacionismo climático e teorias da conspiração.
Matthew D'ancona jornalista inglês e editor do The New European (um jornal e site político e cultural britânico) ao analisar o uso da mentira na política no livro Pós-Verdade: A Nova Guerra Contra os Fatos em Tempos de Fake News (Faro Editorial, 2018) argumenta que a mentira está intimamente ligada à política e que hoje se potencializa com o desenvolvimento tecnológico, a expansão e influência das redes sociais e que na chamada era da pós-verdade, crenças e convicções têm se sobreposto aos fatos: "Promessas irrealizáveis são compatibilizadas com expectativas absurdas; os objetivos inalcançados são ocultados pelo eufemismo e pela evasão; o hiato entre retórica e realidade gera desencantamento e desconfiança".
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Ex-presidente Bolsonaro faz propaganda enganosa de remédios ineficazes contra o vírus da Covid-19. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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Pós-verdade aludida pelo autor, significa que a verdade já não é mais importante. Trata-se, como ele afirma, do triunfo visceral sobre o racional. O Dicionário Oxford se refere a pós-verdade como às circunstâncias na qual os fatos objetivos têm menos influência na formação da opinião pública, são aquelas que apelam mais para a emoção e à crença pessoal do que pela verdade.
Em relação ao uso da mentira na política, a filósofa alemã Hannah Arendt (1906-1975) fugida do nazismo e adquirido cidadania norte-americana nos anos 1940, autora de vasta obra, como entre outras A origem do totalitarismo (1951), A condição Humana (1958). No livro Entre o passado e o futuro, publicado em 1954 (no Brasil foi publicado pela Editora Perspectiva em 1997), que reuniu oito ensaios (A tradição e a época moderna, o conceito de História, O que é Autoridade? O que é Liberdade? Crise na Educação, Crise na Cultura, a conquista do espaço e a estatura humana e verdade e política), neste último afirma que "A veracidade nunca esteve entre as virtudes políticas e mentiras sempre foram encaradas como instrumentos justificáveis pelos governantes (...) a verdade factual não é mais autoevidente do que a opinião, e essa pode ser uma das razões pelas quais os que sustentam opiniões acham relativamente fáceis desacreditar a verdade factual com simplesmente outra opinião" (p.301).
No artigo A arte de manipular multidões: técnicas para mentir e controlar as opiniões se aperfeiçoaram na era da pós-verdade, publicado no dia 28 de agosto de 2017 no jornal El País Alex Grijelmo afirma que a chamada era da pós-verdade é na realidade a era do engano e da mentira e que "a novidade associada a esse neologismo consiste na popularização das crenças falsas e na facilidade para fazer com que os boatos prosperem. A mentira dever ter uma alta porcentagem de verdade para ser mais crível. E terá ainda maior eficácia a mentira composta totalmente por uma verdade. Parece uma contradição, mas não é".
Hoje, com o avanço da tecnologia, como o uso da Inteligência Artificial (IA) permite usar a mentira de forma muito mais sofisticada e eficaz, como entre outros exemplos, manipular digitalmente documentos, falas e imagens, que passaram a ser usadas em campanhas eleitorais. Mas há também outros aspectos relevantes nesse processo de manipulação destacado por Guijelmo, que é a omissão ou o silenciamento: as técnicas de silêncio costumam ser mais eficazes porque se emite uma parte comprovável da mensagem, se omite outra igualmente verdadeira. Para ele "quando mentiras são tornadas públicas e questionadas, ou se manifesta à margem da tese dominante recebe uma desqualificação ofensiva que serve como aviso para outros navegadores e assim, a censura já não é exercida nem pelo Governo nem pelo poder econômico, mas por grupos de dezenas de milhares de cidadãos que não toleram uma ideia discrepante, que se realimentam uns com os outros, que são capazes de linchar quem, a seu ver, atenta contra o que eles consideram inquestionáveis, e que exercem seu papel de turba mesmo sem saber muito bem o que estão criticando". (https://brasil.elpais.com/brasil/2017/08/22/opinion/1503395946_889112.html
É fato também que hoje, com as agências de checagens etc., se tem a possibilidade de desmentir, mas não é fácil quando, apesar dos desmentidos, há o que ele chama de insistência na asseveração falsa, e a desqualificação de quem a contradiz. E a isso se soma ao fato de que os que acreditam nas mentiras, se abastecem com notícias falsas diretamente nas fontes manipuladoras: páginas de Internet – blogs, sites especializados (em mentir), influenciadores nas redes sociais etc.- criando bolhas, que se retroalimentam e fica muito difícil quem está preso nelas saírem.
São muitos os exemplos de como a mentira tem um papel fundamental na política e em eleições em particular. Nos Estados Unidos, uma das afirmativas de Donald Trump na campanha eleitoral de 2016 foi dizer – e difundir em suas redes de apoio - que Barak Obama era muçulmano e não tinha nascido nos Estados Unidos (ele sabia que era mentira, mas é um mitômano e faz uso político disso). Mas não é apenas nos Estados Unidos: No Reino Unido, houve uma intensa propaganda, enganosa, em defesa do Brexit na qual se afirmava que com sua aprovação o Serviço Nacional de Saúde teria por semana 350 milhões de libras adicionais (como se constatou depois, não teve) e foi usado na campanha a favor da saída da União Europeia, além de culpar imigrantes como se todos fossem parasitas ameaçadores que privariam os britânicos de moradias, escolas, empregos etc.
Em relação a Donald Trump, o The New York Times fez um levantamento das falsidades difundidas quando ele quando já era presidente (ou seja, continuou mentindo). Só em janeiro de 2017, primeiro mês de governo já havia constatado 99 mentiras. E continuou: no livro A morte da mentira: notas sobre as mentiras da era Trump (Editora intrínseca, 2018), Michiko Kakutani diz Trump "mente de forma tão prolífica e com tamanha velocidade que o Washington Post calculou que ele fez 2.140 alegações falsas ou enganosas no seu primeiro ano de governo – uma média de 5,9 por dia" e persistiu ao longo do mandato, até o final do governo, como quando foi derrotado nas eleições de 2020 e disse, sem qualquer prova, que tinha havido fraudes nas urnas (a exemplo de outros igualmente mentirosos ao perder a eleição). E em maio de 2024, se disse inocente (e muitos acreditaram e ainda acreditam) quando foi considerado culpado pela justiça dos Estados Unidos, de todas as 34 acusações relacionadas ao pagamento de US$ 130 mil para comprar o silêncio de uma atriz pornô na campanha eleitoral de 2016, que ele venceu, mentindo.
No primeiro debate com Joe Biden realizado no dia 27 de junho de 2024, a CNN dos Estados Unidos analisou as falas de Donald Trump e constatou que ele propagou pelo menos 28 informações falsas (mentiras) (https://www.poder360.com.br/internacional/cnn-diz-que-trump-da-28-declaracoes-falsas-durante-debate/).
No artigo As mentiras de Trump: uma lição para os meios de comunicação, publicado em 11 de novembro de 2020 no jornal Folha de S.Paulo, Federico Finchelstein, autor entre outros livros Do fascismo ao populismo na História (Edições 70, 2019) e Uma breve história das mentiras fascistas (Vestígio, 2020) afirma que a negação fanática da realidade (como a pretensa vitória na eleição de 2016) é uma essência chave do trumpismo "um líder que apresentou uma combinação populista de direita tão desastrosa de negação da ciência com relação à Covid-19, somada a racismo, violência, corrupção, posições e ações falhas em termos de economia, política, saúde, mudança climática e desigualdade de renda". (https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2020/11/as-mentiras-de-trump-uma-licao-para-os-meios-de-comunicacao.shtml).
As noticias falsas (fake news) se transformaram em uma verdadeira indústria, um terreno fértil para o que se convencionou chamar de pós-verdade e no caso da política e eleições em particular, quando a polarização política impossibilita um debate racional, abrindo espaço para todo tipo de mentiras e manipulação.
No Brasil, onde a mentira é também um componente fundamental nas campanhas eleitorais, um dos problemas é que não há uma lei para combater as fake news. Há muito circula no Congresso Nacional o Projeto de Lei 2630/2020 (Lei Brasileira da Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet) que foi aprovada no Senado em 30 de junho de 2020 e ainda em regime de tramitação na Câmara dos Deputados, assim como um no Supremo Tribunal Federal que em 2019 abriu o inquérito das fake news (Inquérito 4.781), para apurar ameaças a seus integrantes e disseminação de conteúdo falso na internet, ainda não concluído. E este é um grande desafio, não apenas em relação a esta, mas às próximas eleições. Como combater com eficácia a "pós-verdade", as mentiras, a desinformação, não apenas, mas especialmente na política, em um cenário que Umberto Eco disse que a web e as redes sociais deram "direito de falar a legiões de idiotas" que antes não tinham voz, ou seja, a tecnologia possibilitou a ampliação do seu alcance, e é usada não apenas pelos que não tinham voz, como por tiranos (e candidatos a), governantes autoritários, populistas e seus seguidores no sentido de manipular e mentir impunemente. Até quando?
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