Uma coisa, contudo, parece que não é muita clara para alguns sobre o perfil político e pessoal da multidão de eleitores do Jair. Por isso, muitos os tratam como se fossem todos um bando homogêneo de malucos dispostos a sacrificar a própria vida pela liberdade e eleição do extremista de direita. Não é assim.
Na hipótese cada vez mais real e próxima de prisão em regime fechado, o "perigo de milhões nas ruas" para retirar Jair Bolsonaro do presídio na marra ou forçar reversão imediata da medida na Justiça —
nos parece delírio de quem ainda se impressiona com o barulho que o bolsominion-raiz é capaz de fazer. Um erro.
O bolsominion-raiz, aquele que acredita em disco voador, reza para pneu e tem coragem de ir libertar Bolsonaro da prisão só com a cara e a coragem — é a minoria da minoria entre os eleitores de Jair Bolsonaro. Sozinhos, continuam mais ou menos aquilo que se viu em Brasília no 8 de janeiro de 2023: aproximadamente, 5.500, de acordo com o relatório da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investigou o caso. O grosso do bolsonarismo, por outro lado, não é disposto a ações extremistas e só sai de casa mesmo no dia da eleição.
Isso não quer dizer, porém, que não haverá um aumento da histeria bolsonarista na hora em que o ex-presidente for preso. Buzinaços, ameaças de parar o país, explosão de uma ou outra bomba aqui e ali... Tudo isso pode ocorrer. Mas a coisa ficará mesmo só no barulho, sobretudo porque tais tipos de ações serão duramente reprimidas pelo aparato policial do Estado.
Não fosse assim, por que Jair Bolsonaro, seus filhos e apoiadores de peso como Silas Malafaia nunca conseguiram organizar atos contundentes de massa para livrar o extremista da humilhante tornozeleira e prisão domiciliar em que se encontra há quase um mês? Bolsonaro obteve mais de 58 milhões de votos no segundo turno de 2022.
Com apenas um milhãozinho desses nas ruas, isso seria feito. Cadê?
Ivan Ilitch, o personagem de Leon Tolstói, não era um sociopata e nem tinha os ímpetos assassinos de Jair Bolsonaro. Contudo, como o capitão, dedicou a vida a futilidades e busca por vantagens materiais que seu cargo de juiz permitia. Um ser humano desprezível.
O resultado disso é que chegou à beira da morte ressentido até com a filha e a própria mulher, porque se sentia abandonado por elas. Lealdade mesmo só via em Guerássim, um jovem honesto que cuidou de Ilitch em suas últimas semanas de vida.
A situação de Jair Bolsonaro deve se encaminhar a algo semelhante ao que ocorreu a Ivan Ilitch em seu leito de morte. Os "amigos" governadores do capitão, Tarcísio de Freitas à frente, tão logo tomem conhecimento da sentença de cadeia — se sentirão aliviados, pois cada um verá no fato em si uma possibilidade real de chegar à presidência da república. Para eles, será algo assim como "um aumento de oitocentos rublos anuais" que os colegas de trabalho de Ilicth vislumbraram ter.
E os "Guerássins" leais ao capitão? Muito poucos, pouco conseguirão fazer. Tal como o que ocorreu após o fim do homem de 'vida fútil' criado por Tolstói, reclusão em presídio para Bolsonaro tende a gerar entre os "seus" mais alívio que choro e vela. Quando entrar setembro, a gente poderá ver.