A mentira na política e suas consequências

23/12/2025
A verdade nunca esteve entre as virtudes políticas e mentiras sempre foram (fartamente) utilizadas como instrumentos para a conquista e manutenção do poder político.

Categoria: Política

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A mentira está intimamente ligada à política, e tem sido, ao longo da história, objeto de reflexões de psicanalistas, psiquiatras, filósofos, sociólogos, cientistas políticos, historiadores, etc. Atualmente se potencializa com o desenvolvimento tecnológico, com a expansão e influência das redes sociais e mais recentemente com o uso de Inteligência Artificial, e tem ganhado 'novos ares' no que se tem chamado de pós-verdade, quando crenças e convicções têm se sobreposto aos fatos.

Em seu ensaio Verdade e política, publicado no livro Entre o passado e o futuro (São Paulo, Editora Perspectiva, 1997), a filósofa alemã Hannah Arendt (1906-1975) escrito em função das controvérsias que se seguiram após a publicação do livro Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal (1963), afirma que podemos chamar de verdade aquilo que não podemos modificar que se contrapõe à mentira e que "Jamais alguém pôs em dúvida que verdade e política não se dão muito bem uma com a outra", e que ninguém havia até então incluído a sinceridade entre as virtudes políticas e sempre se consideraram as mentiras como ferramentas necessárias e justificáveis ao oficio não só do político ou demagogo, como também do estadista (p.283).

Para ela, "a verdade factual não é mais autoevidente do que a opinião, e essa pode ser uma das razões pelas quais os que sustentam opiniões acham relativamente fáceis desacreditar a verdade factual com simplesmente outra opinião" (p.301).

Ao analisar os regimes totalitários (As origens do totalitarismo, Companhia das Letras, 2013) ela afirma que além da paixão pela violência – caracteriza todas as formas de fascismos - o ideal dos regimes totalitários não é ter adeptos fanatizados, mas dispor de cidadãos que não saibam distinguir entre ficção e fato e entre a verdade e a mentira.

Assim, a verdade nunca esteve entre as virtudes políticas e mentiras sempre foram (fartamente) utilizadas como instrumentos para a conquista e manutenção do poder político.

Nesse sentido, a marca distintiva da verdade factual consiste em que seu contrário não é o erro, nem a ilusão, nem a opinião, nenhum dos quais se reflete sobre a veracidade pessoal e sim a falsidade deliberada, a mentira (p.308).

No livro A paixão pela mentira (Editora Todavia, 2025), o psicanalista Paulo Schiller mostra como os governos fascistas "se ordenam em torno da relativização – ou da destruição – da verdade. Alimentam-se de uma realidade fictícia baseada em invenções e se vangloriam da honestidade que exibem ao reconhecer que, como todos os demais, eles também mentem e, portanto, a verdade não existe – sobre qualquer assunto, todos podem ter suas opiniões. Esses governos desacreditam e atacam, sistematicamente, sempre, as eleições, o jornalismo e o Judiciário".

Em um momento de guerra, o uso de mentiras se amplia e pode trazer graves conseqüências. Há muitos exemplos, como entre outros, as invasões do Afeganistão (2001) e do Iraque (2003) pelos Estados Unidos, duas das muitas intervenções militares em outros países (sem que tenha ocorrido, como hoje em relação à invasão da Rússia na Ucrânia, uma solidariedade internacional às vítimas, da mesma forma, violências e abusos patrocinados pela União Européia na Líbia e no mediterrâneo central, com milhares de vítimas e refugiados).

Além dos objetivos estratégicos, desconhecidos pelo público em geral, sempre se usou de mentiras e manipulações para motivar apoios. No caso do Iraque, a de que havia provas de que Saddam Hussein possuía armas de destruição em massa, que era aliado de Osama Bin Laden, e que teve responsabilidade nos ataques de 11 de setembro de 2001 às Torres Gêmeas.

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Outro exemplo: em junho de 1971, o jornal The New York Times teve acesso a um documento, que ficou conhecido como Os Documentos do Pentágono e publicou uma série de matérias sobre a real participação dos Estados Unidos na guerra do Vietnã. Os documentos mostraram como o governo mentia descaradamente sobre a guerra e suas justificativas. O pretexto só se revelou (publicamente) ser uma farsa em 2005.

Trata-se do que teria ocorrido no golfo de Tonquim no dia 2 de agosto de 1964, quando o governo foi informado que três navios do Vietnã do Norte se dirigiam rumo ao destróier norte-americano (USS maddox) que estava em missão de vigilância e espionagem na costa do país carregados com torpedos.

Alegando que os navios teriam sido atacados, os EUA declaram guerra ao Vietnã e só 50 anos depois, documentos da Agência de Segurança Nacional, a NSA, vieram a público afirmar que a presença das lanchas torpedeiras da marinha norte-vietnamita nunca foram confirmadas, ou seja, agentes da NSA distorceram os fatos e ajudou a precipitar e justificar a guerra, com as consequências conhecidas.

Há um aspecto relevante em relação ao uso da mentira por parte dos governantes, especialmente quando tem sua credibilidade posta em xeque, é a difusão do medo como uma das estratégias. É o que ocorre quando, por exemplo, um presidente mente à nação a respeito de uma ameaça externa inexistente, sabendo que os cidadãos, em geral, desconhecem o que de fato está ocorrendo. A guerra das Malvinas (2 de abril a 14 de junho de 1982) foi um exemplo que a ditadura militar argentina tentou usar para mobilizar o país contra o Reino Unido, mas cujo resultado foi o contrário do que a ditadura esperava. A derrota levou à queda da junta militar que governava o país desde o golpe de 1976.

No livro Por que os líderes mentem: toda a verdade sobre as mentiras na política internacional (Rio de Janeiro, Zahar, 2012) de John Mearsheimer afirma que "Líderes que mentem para seus cidadãos pelo que acreditam serem boas razões estratégicas podem, no entanto, produzir danos significativos a seu corpo político, fomentando uma cultura de desonestidade. É por isso que a difusão do medo e os acobertamentos estratégicos são os tipos mais perigosos de mentiras que os líderes podem contar".

Outra parte da mentira é o seu acobertamento estratégico interno, são mentiras que procuram a ocultar políticas fracassadas, seus erros (nunca reconhecidos) ou suas políticas malsucedidas.

Em relação ao Brasil, algum dos usos de mentiras na política foi analisado no livro Você foi enganado: mentiras, exageros e contradições dos últimos presidentes do Brasil de Chico Otavio e Cristina Tardáguila (Rio de Janeiro, Editora Intrínseca, 2018). O livro "é composto por algumas das muitas histórias que envolvem mentiras, exageros e contradições que marcaram a vida política do país no último século" no qual os políticos têm usado a mentira como um instrumento de conquista e manutenção de poder.

São muitos exemplos. Das cartas falsas atribuídas a Artur Bernardes em 1921 que atacava o clube militar e seu dirigente (Hermes da Fonseca); o plano Cohen em 1937, um documento falso atribuído aos comunistas e foi pretexto para a instauração da ditadura do Estado Novo (1937-1945); a negação oficial das torturas, assassinatos e prisões políticas na ditadura militar (1964-1985); as mentiras sobre a doença de Tancredo Neves em 1985, até as mentiras de Michel Temer, para justificar o golpe de 2016 e depois como presidente.

Nas eleições presidenciais de 2018, a mentira e seu uso sistemático foi um componente importante na vitória da extrema direita, que continuou a mentir nas eleições de 2022, mas não com a mesma eficácia, com a derrota do seu candidato. Mas as mentiras continuaram e continuam presentes, difundidas nas redes sociais da extrema direita, mobilizando seus seguidores, criando "bolhas" imunes à verdade e aos fatos, uma "realidade paralela" que muitos aderem, habitam e ajudam a difundir em suas redes sociais.

Na pandemia, as mentiras em relação às vacinas (assim como a negligência e o nagacionismo) tiveram consequências trágicas, certamente contribuindo para mais de 750 mil mortes, afora milhões de infectados.

No artigo A mentira na política e o ideário fascista, publicado no jornal o Estado de S. Paulo (11/04/2019), o jornalista e professor da Escola de Comunicação e Artes da USP, Eugenio Bucci, ao analisar o que chamou de "indústria da mentira" se refere, entre outras mentiras (e imbecilidades), a afirmativa de que o nazismo era de esquerda e a tomada do poder pelos militares em 1964 não foi um golpe de Estado.

Para ele as "mentiras não são infâmias isoladas, pronunciadas por alguém que aposta na polêmica. Associadas umas às outras, elas cumprem um papel que não é gratuito, nem casual, nem humorístico: servem para desmoralizar os direitos humanos, a cultura da paz e a normalidade institucional numa democracia. Vieram o público para promover um ideário, hoje anacrônico, tosco e iletrado, mas renitente: o ideário do fascismo".

Trata-se de imposturas, uma verdadeira usina de mentiras (...) que planta entre nós o desejo de tirania, enquanto encoraja a violência generalizada – da polícia, dos milicianos, dos guardas da esquina e da linguagem".

Como diz Matthew D'Ancona em Pós-verdade. A nova guerra contra os fatos em tempo de fake news (Faro Editorial, 2018) "Na longa decadência do discurso público, que, finalmente, conduziu à era da pós-verdade, a classe política e o eleitorado conspiraram em favor da degradação e debilitação do que dizem um ao outro. Promessas irrealizáveis são compatibilizadas com expectativas absurdas; os objetivos inalcançados são ocultados pelo eufemismo e pela evasão; o hiato entre retórica e realidade gera desencantamento e desconfiança. E em seguida, o ciclo recomeça. Quem ousa ser honesto? E quem ousa dar importância a honestidade?"(p.128).

Uma das reflexões importantes para se compreender a relação entre a mentira e a verdade (e seus usos políticos) foi feita pela filósofa alemã Hannah Arendt (1906-1975) uma das milhões de vítimas da barbárie nazista (que usou a mentira como uma de suas estratégias mais eficazes). Autora de vasta obra, entre outras, A origem do totalitarismo (1951), A condição Humana (1958), no livro Entre o passado e o futuro - publicado em 1967 e no Brasil em 1997 pela Editora Perspectiva - reuniu oito ensaios (A tradição e a Época Moderna, o Conceito de História, O que é Autoridade? O que é Liberdade? Crise na Educação, Crise na Cultura, A Conquista do Espaço e a Estatura Humana e Verdade e Política). Este último, como ela diz na introdução, foi ocasionado pelo que chamou de pseudo controvérsia que se seguiu à publicação do livro Eichmann em Jerusalém (1963) e teve como objetivo esclarecer primeiro, à questão de ser ou não sempre legítimo dizer a verdade e segundo, refutar a "espantosa quantidade de mentiras utilizadas na 'controvérsia', sobre o que escrevi".

Para ela, a impostura, a falsificação e a mentira são empregadas como meio para alcançar objetivos políticos (que não se restringe, evidentemente, ao caso da Alemanha nazista e continuam sendo utilizados, mesmo em países democráticos) . Ao analisar a verdade na política afirma que "A veracidade nunca esteve entre as virtudes políticas e mentiras sempre foram encaradas como instrumentos justificáveis pelos governantes (...) a verdade factual não é mais autoevidente do que a opinião, e essa pode ser uma das razões pelas quais os que sustentam opiniões acham relativamente fáceis desacreditar a verdade factual com simplesmente outra opinião" (p.301).

Para Hannah Arendt, o resultado da substituição da verdade pela mentira não é que as mentiras passam a ser aceitas como verdades, nem que a verdade passa a ser difamada como mentira, mas a destruição do próprio sentido que usamos para nos orientar.

Além das redes sociais, é preciso destacar também o papel dos meios de comunicação nesse processo. Como disse Patrick Charaudeau no livro A manipulação da verdade – do triunfo da negação às sombras da pós-verdade (Editora Contexto, 2022): "O público é designado para ver o mundo pelo prisma da seleção da mídia (...) para se emocionar coletivamente por medo (...) para tomar partido de maneira radical, para se indignar e se revoltar sem possibilidade de análise dos acontecimentos" (p.122).

Em campanhas eleitorais, além da importância de saber distinguir o que é falso do que é verdadeiro, de promessas irrealizáveis, é se ter consciência de que a desinformação e mentiras podem ter consequências trágicas, especialmente quando se usa a mentira e a desinformação que se eleger.. Quando está no exercício do poder, os mentirosos e manipuladores têm a possibilidade tomar decisões que afetam a sociedade.

Há muitos exemplos. No caso da presidência da República, vimos o que ocorreu durante a pandemia no Brasil quando o presidente da República e seus aliados (dentro e fora do parlamento) defendiam e estimulavam (e no caso do presidente, até mandando o Exército fabricar) remédios totalmente ineficazes para a Covid-19 como cloroquina e ivermectina, além dos questionamentos sobre a ineficácia de vacinas, com as consequências que se conhece: uma das mais altas taxas de letalidade por Covid do mundo, com mais de 750 mil mortes, afora os milhões de infectados.

Embora mentiras faça parte do "cardápio eleitoral" se tornam muito mais danosas quando são ditas e defendidas por autoridades que deveriam se pautar pelo conhecimento, pela ciência, com sensatez, equilíbrio e não pela ignorância, alimentando ressentimentos e preconceitos e contribuir com desinformação e mentiras para ampliar a espiral da estupidez, como entre outros exemplos, ataques à ciência, o negacionismo climático e teorias da conspiração.

No artigo A arte de manipular multidões: técnicas para mentir e controlar as opiniões se aperfeiçoou na era da pós-verdade, publicado no dia 28 de agosto de 2017 no jornal El País Alex Grijelmo afirma que a chamada era da pós-verdade é na realidade a era do engano e da mentira com a popularização das crenças falsas e a facilidade para fazer com que os boatos prosperem.

Hoje, com o avanço da tecnologia, o uso da Inteligência Artificial (IA) permite usar a desinformação e a mentira de forma muito mais sofisticada e eficaz, como entre outros exemplos, manipular digitalmente documentos, falas e imagens, que passaram a ser usadas (também) em campanhas eleitorais.

Mas há também outros aspectos relevantes nesse processo de desinformação, mentiras e manipulação destacado por Guijelmo, que é a omissão ou o silenciamento: as técnicas de silêncio costumam ser mais eficazes porque se emite uma parte comprovável da mensagem, se omite outra igualmente verdadeira. Se desqualifica quem questiona e são usadas "por grupos de dezenas de milhares de cidadãos que não toleram uma ideia discrepante, que se realimentam uns com os outros, que são capazes de linchar quem, a seu ver, atenta contra o que eles consideram inquestionáveis, e que exercem seu papel de turba mesmo sem saber muito bem o que estão criticando". https://brasil.elpais.com/brasil/2017/08/22/opinion/1503395946_889112.html 

É fato também que hoje, com as agências de checagens etc., se tem a possibilidade de desmentir, mas não é fácil quando, apesar dos desmentidos, há o que ele chama de insistência na asseveração falsa, e a desqualificação de quem a contradiz. E a isso se soma ao fato de que os que acreditam nas mentiras se abastecem com notícias falsas diretamente nas fontes manipuladoras: páginas de internet – blogs, sites especializados (em mentir), influenciadores nas redes sociais etc.- criando bolhas, que se retroalimentam e fica muito difícil quem está preso nelas de saírem.

São muitos os exemplos de como a mentira tem um papel fundamental na política e em eleições em particular. É importante ressaltar o que ocorreu nos Estados Unidos, com Donald Trump e suas mentiras porque elas afetam – ou podem afetar – não apenas o seu país, mas o mundo e mais ainda, com a possibilidade de seu retorno à presidência nas eleições de novembro de 2024. Na campanha eleitoral de 2016, quando foi eleito, fez uso sistemático de mentiras.

No artigo As mentiras de Trump: uma lição para os meios de comunicação, publicado em 11/11 2020 no jornal Folha de S.Paulo, Federico Finchelstein, autor entre outros do livro Uma breve história das mentiras fascistas (Editora Vestígio, 2020) afirma que a negação fanática da realidade é uma essência chave do trumpismo "um líder que apresentou uma combinação populista de direita tão desastrosa de negação da ciência com relação à Covid-19, somada a racismo, violência, corrupção, posições e ações falhas em termos de economia, política, saúde, mudança climática e desigualdade de renda". https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2020/11/as-mentiras-de-trump-uma-licao-para-os-meios-de-comunicacao.shtml 

No livro A morte da mentira: notas sobre as mentiras da era Trump (Editora Intrínseca, 2018), Michiko Kakutani diz Trump mente de forma tão prolífica e com tamanha velocidade que o Washington Post calculou que só no primeiro ano de seu governo (2017) ele fez 2.140 alegações falsas ou enganosas, uma média de 5,9 por dia.

No primeiro debate com Joe Biden realizado no dia 27 de junho de 2024, a CNN dos Estados Unidos analisou as falas de Donald Trump e constatou que ele propagou pelo menos 28 informações falsas (mentiras) https://www.poder360.com.br/internacional/cnn-diz-que-trump-da-28-declaracoes-falsas-durante-debate/

A desinformação, o uso da mentira, notícias falsas (fake news) se transformaram em uma verdadeira indústria e se expande no terreno fértil da ignorância, utilizados não apenas nas campanhas eleitorais, mas também em governos (ou mandatos parlamentares) de quem foi eleito usando mentiras.

E quando no exercício do poder, possibilita a difusão de mentiras e desinformação. No dia 11 de julho de 2024 foi publicada no portal G1 uma matéria intitulada "Investigado usava o 'grupo dos malucos' para difundir informações falsas sobre ministro do STF e seus familiares". Trata-se de um relatório da Polícia Federal, resultado de investigações no esquema que ficou conhecido como Abin paralela no qual se constatou que foram monitoradas autoridades, servidores e jornalistas. Eles controlavam perfis e grupos utilizados para difundir desinformação para atacar adversários e instituições. Segundo a matéria foram interceptados diversos diálogos entre o policial federal Marcelo Araújo Bormevet e o militar Giancarlo Gomes Rodrigues indicando possíveis ações clandestinas contra os ministros do STF Alexandre de Moraes e Roberto Barroso "com o escopo de questionar a credibilidade do sistema eleitoral" (https://g1.globo.com/politica/noticia/2024/07/11/investigacao-abin-suposta-espionagem-grupo-dos-malucos.ghtml ).

O problema portanto, são as consequências, possibilitando eleger mentirosos seguidores que faz uso da desinformação e mentiras, e se torna muito mais danoso em contextos nos quais a polarização política impossibilita um debate racional, abrindo espaço para todo tipo de mentiras.

No Brasil, onde a desinformação e mentira são também um componentes fundamentais nas campanhas eleitorais (usando em profusão pelo candidato da extrema direita vitorioso em 2018) e um dos problemas é inexistência de leis que possa combater com a eficácia a circulação de mentiras, as fake news.

Há muito circula no Congresso Nacional o PL 2630/2020 (Lei Brasileira da Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet) que foi aprovado no Senado em 30/6/2020 e ainda em tramitação na Câmara dos Deputados, assim como o inquérito das fake news (Inquérito 4.781) aberto pelo STF em 2019 para apurar ameaças a seus integrantes e disseminação de conteúdos falsos na internet (inquérito ainda não concluído). Também é importante iniciativas do STF, como a criação do Programa de Combate à Desinformação (em 2021) e a publicação (e difusão) de livros como Desinformação, o mal do século. Distorções, inverdades, fake news: a democracia ameaçada (STF/Editora da Universidade Brasília) (disponível em https://bibliotecadigital.stf.jus.br/xmlui/handle/123456789/5626)

É de fundamental importância também ter uma lei que possa coibir - pessoas e plataformas digitais - de mentir, distorcer, desinformar e manipular. Trata-se de um grande desafio, urgente e necessário e não apenas em relação as eleições mas especialmente em relação a elas pelas repercussões subsequentes.


*Homero de Oliveira Costa é professor titular de Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e autor, entre outros, dos livros A insurreição comunista de 1935 (Ensaio/SP e Editora da UFRN), Dilemas da representação política no Brasil (UFPB), Democracia e representação política no Brasil (Sulinas, RS), Crise dos partidos políticos (Appris,PR), e o Triunfo da pequena política (CRV,PR).

Todos os artigos do prof Homero Costa AQUI


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