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A era da Estupidez?
"Não há nada mais caro na vida que a doença – e a estupidez" (Sigmund Freud)
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Lançado em 2009, o filme A era da Estupidez, dirigido e roteirizado pela documentarista britânica Franny Armstrong, é ambientado no ano de 2055. Nele, um 'arquivista' (interpretado por Pete Postlethwaite) vive em um mundo devastado pelas consequências do aquecimento global. Enquanto organiza imagens do passado – como reportagens, vídeo e registros históricos –, ele questiona as ações que levaram à destruição do planeta e pergunta por que, mesmo cientes e testemunhando os efeitos da devastação ambiental, as pessoas nada fizeram para impedir a catástrofe enquanto havia tempo. Em uma fala simbólica, o personagem resume: "O que não entendo é como não nos salvamos quando podíamos".
O objetivo do filme, parte do ativismo ambiental da diretora, é provocar reflexão e consciência crítica. Ao apresentar imagens impactantes, pretende mobilizar aqueles que, "submersos na cotidianeidade", não foram – ou não são – capazes de perceber ou agir contra a destruição ambiental promovida pela sociedade de consumo. O filme denuncia como essa lógica está esgotando os recursos do planeta e tornando todos, de alguma forma, vítimas desse sistema.
Ao longo do documentário, são apresentados relatos de seis pessoas em diferentes países que, à sua maneira, combatem ou são afetadas pelas mudanças climáticas. A "estupidez" citada no título reside justamente nisso: a maioria da população, apesar de ter acesso à informação e às ferramentas para agir, permanece inerte. Poucos percebem o que está em jogo – e menos ainda resistem.
Mas afinal, por que "estupidez"? De acordo com o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, trata-se da "Qualidade do que é estúpido; procedimento de pessoa sem discernimento ou senso; grande indelicadeza e incivilidade; grosseria, e ausência de sensibilidade".
Diversos estudiosos já tentaram compreender a estupidez sob um viés mais amplo. Entre eles, destacam-se autores como Carlo M. Cipolla, foi historiador de economia e professor em Berkeley (EUA) com o livro "As leis fundamentais da estupidez humana" (Editora Planeta, 2020), o mestre e doutor em psicologia Ezio Flavio Bazzo, autor de "Manifesto aberto à estupidez humana" (Lilith Publicadora & Cia, 1979 e "Blasfematório: uma fenomenologia da idiotice" (2002), o psicólogo de formação, escritor e jornalista científico Jean-François Marmion organizador de "A psicologia da estupidez" (Faro Editorial, 2021) e o psicanalista Mauro Mendes Dias, diretor do Instituto Vox de Pesquisa em Psicanálise (SP), autor de "O discurso da estupidez" (Iluminuras, 2020). Essas obras como o filme "A Era da Estupidez" revelam que a estupidez e a ignorância deliberada é mais comum – e perigosa – do que gostaríamos de admitir.
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No livro de Carlo M.Cipolla, ele formula o que chamou de Quatro Leis Fundamentais da Estupidez Humana, que podem ser resumidas assim:
1. Sempre e inevitavelmente, subestimamos o número de indivíduos estúpidos em circulação.
2. A probabilidade de uma pessoa ser estúpida independe de qualquer outra característica dela.
3. Uma pessoa estúpida é aquele que causa prejuízo a outros, sem qualquer benefício próprio, e podendo inclusive ser prejudicada.
4. As pessoas não estúpidas frequentemente subestimam o poder destrutivo dos estúpidos. Em particular, esquecem que associar-se a eles sempre traz consequências negativas.
Cipolla ainda afirma que a estupidez não é exclusiva de pessoas ignorantes ou sem instrução: ela está presente entre burocratas, políticos, religiosos e chefes de estado, exemplos claros de indivíduos estúpidos, cujo poder apenas amplificam os danos que podem causar. Ele também ressalta que dignitários religiosos não devem ser esquecidos.
A estupidez se manifesta de diferentes formas. Um exemplo recente ocorreu no Brasil, em 29 de junho de 2025, durante um ato na Avenida Paulista (SP) organizado por apoiadores de Jair Bolsonaro, com a presença do próprio ex-presidente. Segundo matéria publicada pela revista Fórum, assinada por Iara Vidal, intitulada "Majestic 12: entenda a mega teoria da conspiração que embala bolsonaristas", o evento, apelidado de "micareta golpista", além de esvaziado, evidenciou o desgaste político de Bolsonaro. Entre os participantes estavam figuras que defendem teorias conspiratórias "dignas de roteiro de ficção científica".
A matéria cita um "cidadão de bem" entrevistado pelo portal Metrópoles, considerado uma espécie de porta-voz do bolsonarismo, que afirmou que Lula está morto desde 2022 e que quem governa o país é um sósia. Para justificar essa ideia, ele recorreu à mega teoria da conspiração conhecida como Majestic 12 (ou MJ-12).
A resposta desse participante resume o pensamento de muitos que compartilham dessas crenças: para ele, o protesto não era contra Lula ou o STF, mas contra o Majestic 12. Como explica a reportagem, em seu discurso confuso, o bolsonarista mistura teorias conspiratórias variadas. Defende a existência de um grupo global secreto – uma "cabala" – que controlaria governos e eleições no mundo inteiro. Para ele, Donald Trump seria o "xerife do planeta" numa guerra entre o bem (ele e seus apoiadores) e o mal (os demais). Ele estaria "supostamente à frente de uma cruzada para derrotar esse poder oculto".
O Majestic 12 é uma lenda clássica da ufologia. Surgiu nos anos 1980, com documentos supostamente secretos que afirmavam que o governo dos EUA teria criado, em 1947, um comitê ultrassecreto por ordem do então presidente Harry S. Truman (1947-1953), após o Caso Roswell (julho de 1947, quando supostamente havia caído um disco voador no Novo México). A missão desse grupo seria encobrir a existência de naves e corpos alienígenas para evitar o pânico social. Anos depois, investigações do FBI comprovaram que os documentos eram falsos – repletos de erros de digitação, linguagem não condizente com documentos oficiais e outras inconsistências.
Mesmo assim, ufólogos e conspiracionistas passaram a defender a veracidade dos documentos. Isso foi alimentando teorias da conspiração, incluindo um documentário, amplamente exibido (e revelado depois ser falso), no qual aparece uma foto de um suposto alienígena numa sala secreta. Como essa história chegou até bolsonaristas? A autora da matéria explica: o MJ-12 ressurgiu na internet em fóruns conspiratórios como o QAnon, nos EUA. O QAnon mistura várias teorias: Illuminati, Nova Ordem Mundial, Área 51, reptilianos e o próprio MJ-12 – criando uma narrativa de que há uma elite oculta que governa o mundo, e manipula a democracia.
Como alguém pode acreditar em tamanha estupidez? É preciso, aqui, diferenciar estupidez de ignorância. Segundo o Houaiss, ignorância é o "estado de quem não sabe algo, por falta de estudo, experiência ou conhecimento". Já a estupidez, como vimos, é a recusa consciente em reconhecer fatos, agir com discernimento, mesmo diante de evidências.
Um dos pensadores que buscaram compreender as consequências sociais da estupidez foi o teólogo e pastor luterano alemão Dietrich Bonhoeffer. Vivendo na Alemanha nazista, ele resistiu ao regime de Hitler e acabou enforcado em 1945. Em 1943, escreveu um texto que formula o que ficou conhecido como "a teoria da estupidez". Bonhoeffer argumenta que o estúpido não reconhece a própria estupidez, não responde a argumentos racionais e se torna facilmente manipulável. Por isso, representa uma base de apoio passiva a regimes totalitários, mesmo que ele próprio acabe sendo vítima.
No texto Da estupidez, publicado pelo Instituto Humanitas Unisinos em 5 de setembro de 2019 (traduzido por Petronella Maria Boonen), Bonhoeffer afirma: "Tornando-se assim um instrumento sem vontade própria, o estúpido será capaz de todo o mal e, ao mesmo tempo, incapaz de reconhecer-se mau ou de reconhecer maldade em seus atos. Aqui está o perigo de um abuso diabólico. Como resultado, as pessoas serão destruídas para sempre".
Para ele, "A estupidez é mais perigosa que a maldade. Contra o mal se pode protestar; o mal pode ser exposto, revelado; pode também ser evitado, se necessário, até pela força; o mal carrega o germe da autodecomposição (...) diversamente, não há como se defender da estupidez (...) razões não a convencem; simplesmente não se dá crédito a fatos que contradigam o próprio preconceito – em tais casos, o estúpido se torna ainda mais resistente".
Há muitos exemplos de estupidez coletiva. Além do apoio entusiástico ao nazismo, na Alemanha e ao fascismo na Itália, assim como a diversas ditaduras, muitos episódios pelo mundo evidenciam formas locais desse fenômeno. No Brasil, um dos exemplos expressivos de estupidez, aconteceu em novembro de 2022: um vídeo viralizou mostrando apoiadores de Bolsonaro reunidos no Centro Histórico de Porto Alegre (RS), formando um círculo com os celulares voltados para o céu, pedindo ajuda a "extraterrestres" – e também aos militares (para darem um golpe). Em outro episódio, também em novembro, manifestantes rezavam e prestavam continência a um pneu em protesto contra a vitória de Lula nas eleições.
Para essa bolha conspiratória, acreditar em um "governo fantasma" ajuda a justificar qualquer narrativa. Se Bolsonaro perde apoio ou enfrenta investigações, a culpa recai sobre "forças ocultas". Assim, mesmo sem provas, mantém-se uma mobilização contra "o sistema".
No artigo "Majestic 12: Entenda a mega teoria da conspiração que embala bolsonaristas", a autora traça paralelos com a experiência nazista. Ela mostra como se construiu uma narrativa que misturava ocultismo, arqueologia distorcida e racismo disfarçado de ciência. O nazismo se apresentava como herdeiro de uma "missão sagrada", justificando expansionismo e genocídio. Mesmo após a derrota, grupos neonazistas continuaram difundindo essas ideias por meio de círculos esotéricos que misturam símbolos da SS, runas germânicas, mitos asturianos e tesouros místicos tudo em defesa da ideia de uma "raça superior" e uma "missão espiritual".
Tanto o Majestic 12 quanto o misticismo nazista, seguem a lógica das "forças ocultas" que controlam o mundo, com símbolos misteriosos, documentos secretos e uma eterna batalha entre o bem e o mal. No século XXI, como afirma a autora da matéria, tudo isso ressurge reciclado em teorias como QAnon, MJ-12, reptilianos e fake news sobre governos "secretos".
Portanto, o bolsonarista entrevistado na Avenida Paulista em junho de 2025, ao citar o Majestic 12, não inventou aquilo sozinho. Muitos como ele realmente acreditam nessas narrativas. Não por acaso, há quem ainda afirme que Lula não venceu as eleições de 2022 ou que teria morrido antes da posse, sendo substituído por um sósia.
São esses mesmos que, durante a pandemia, rejeitaram medidas sanitárias, recusaram-se a tomar vacinas, promoveram aglomerações e se medicaram com remédios ineficazes para a covid-19 como cloroquina e ivermectina – muitos, até hoje, permanecem não vacinados. Isso se associa ao obscurantismo religioso, à negação da ciência e à influência de líderes religiosos e influencers conspiracionistas, que ampliam o alcance de suas teorias malucas.
Como considerar tudo isso, senão como fruto da estupidez? Há, sim, uma relação entre esse fenômeno e a democracia. Pessoas estúpidas não compreendem o que significa viver em um regime democrático. Com sua ignorância ativa, defendem ditaduras e golpes, servindo aos interesses de grupos, que, no fundo, as manipulam (e desprezam).
Na era das redes sociais, onde a desinformação se espalha com facilidade e os algoritmos reforçam bolhas ideológicas, a estupidez coletiva tornou-se ainda mais perigosa. Com a proximidade das eleições e o fortalecimento da extrema direita, é urgente refletir sobre o papel dessa legião de estúpidos – e buscar alternativas para combatê-los.
No livro "O discurso da estupidez", Mauro Mendes Dias se refere ao livro "O povo contra a democracia" (Companhia das Letras, 2019) do cientista político Yascha Mounk - Professor Associado da Prática de Assuntos Internacionais na Escola de Estudos Internacionais Avançados da Universidade Johns Hopkins em Washington –, que escreveu no prefácio à edição brasileira: "Salvar uma democracia de um populista perigoso é como correr uma ultramaratona e você acaba de transpor o primeiro quilômetro". Para ele, "É um alerta admirável que permite situar o trabalho que existe pela frente, com a seguinte retificação; as baratas, as crenças, os rinocerontes e os estúpidos não irão desaparecer da face da terra".
O fato é que, juntas, estupidez e ignorância, se tornam uma combinação perigosa – e letal.
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